10% OFF na primeira compra.

Troca fácil em até 30 dias

A moda ontem e hoje: O Império do Efêmero

No livro O Império do Efêmero, Gilles Lipovetsky revela os paradoxos da moda: entre pertencer e diferenciar; massificar e personalizar. Ele nos provoca a refletir se estamos consumindo tendências ou sendo consumidos por elas. Afinal de contas, o principal motor da moda é a ânsia pelo novo.

O Império do Efêmero

6 minutos

Quando pensamos em moda, o que vem à mente?

Talvez roupas cheias de informação, shoppings lotados ou até mesmo o gigantesco cemitério de roupas usadas no deserto do Atacama.

De onde veio tudo isso? Como chegamos até aqui?

Entender de onde vem todo esse imaginário pode nos ajudar a ver – e lidar – com a moda de uma forma nova.

O livro O Império do Efêmero, de Gilles Lipovetsky, explora a transformação da moda e sua evolução no tempo de uma forma um tanto quanto complexa? Sim! Mas com reflexões valiosíssimas.

O novo pelo novo

A moda é um fenômeno relativamente recente. A forma como entendemos a moda hoje só começou a se popularizar de fato no século XIX, quando a Revolução Francesa trouxe uma quebra nas tradições e na forma como as pessoas se vestiam.

Antes, as tradições eram mais valorizadas, o vestuário tinha regras mais rígidas e as roupas diziam muito sobre a posição social.

A ruptura da valorização da tradição deu lugar ao culto pelo novo.

Aos olhos de Lipovetsky, o que ocasionou o surgimento da moda foi muito além da relação entre a burguesia e a aristocracia; foi através da valorização do novo pelo novo – e não porque ele foi incorporado culturalmente.

O que era pensado para o coletivo passa a ser individual. Na Idade Moderna, também surge o conceito de indivíduo – e, portanto, a construção do gosto.

O processo decisório agora está nas mãos de cada consumidor. Aliás, o consumo é o que está por trás de todo esse contexto.

As 3 fases da moda

Gilles Lipovetsky divide a evolução da moda em três fases:

  • Moda aristocrática Restrita às elites, usava as roupas para sinalizar status e poder.
  • Moda de 100 anos Marcada pela democratização da moda e ciclos mais lentos de tendência, impulsionados pela Revolução Industrial e a globalização. Aqui começa a organização do sistema e calendário de moda como conhecemos hoje.
  • Moda aberta Reflete a aceleração do consumo e a universalização das tendências. A moda se torna acessível a todos, com velocidade nas mudanças e personalização, mas também com a prevalência do consumo rápido e da obsolescência programada. Nessa fase, a alta costura não dita mais a tendência – ela apenas valida o que está nas ruas. Pessoas à margem da sociedade agora influenciam a moda, mudando um paradigma histórico.

Atualmente, com essa aceleração globalizada e ânsia pelo novo, também vemos propostas muito diferentes de estética coexistindo.

Para toda tendência, existe uma contratendência:

Se de um lado temos o excesso, do outro temos o slow;

Se de um lado temos um grupo de pessoas elegantes, de outro temos as pessoas mais exuberantes.

A interdependência entre moda e consumo

Lipovetsky defende que a moda está no centro da sociedade do consumo, criando um ciclo onde as pessoas compram, consomem e logo descartam.

A busca incessante por novidades moldou os hábitos de consumo e o comportamento social.

O modo de produção fast fashion acelera as tendências de forma impressionante – o que é novo hoje, torna-se velho amanhã.

Lembrando que o livro foi escrito na década de 80! E esse ritmo se intensificou com a internet e o TikTok, que aceleraram ainda mais o surgimento das tendências – é impossível acompanhar tudo.

Influência para muito além da moda

Para produzir em massa, passamos a adotar uma nova estética: mais simplificada, neutra, com linhas retas. Para uma estética universal, perdemos cultura e regionalidade. E muitas vezes nem percebemos essa perda, pois crescemos aprendendo que isso é beleza.

Ganha-se na produção, perde-se na produção cultural.

Ainda assim, há um lado positivo: a produção em massa democratizou o acesso a roupas com informação de moda.

Essa mudança estética ultrapassa a moda – afeta arquitetura, design de produto e eletrodomésticos. Quanto mais técnico o aparelho, mais sóbria e depurada sua aparência.

Sofisticação frívola das formas foi substituída pelo superfuncionalismo high tech.

Lipovetsky

Os paradoxos da moda

Vivemos na era das hiper escolhas. Produtos e subprodutos para todos os gostos – inclusive na moda.

No passado, as transformações eram mais drásticas. Hoje, as mudanças são mais sutis, quase decorativas. O consumo é acelerado, mas a inovação profunda acontece em ciclos mais longos.

A moda, portanto, é cheia de paradoxos:

  • Pertence e diferencia
  • Massifica e personaliza
  • Homogeniza e cria micro diferenciações
  • Fala do novo, mas repete o passado
  • Permite expressão individual, mas impõe padrões

Estar no social, mas com expressão individual

Lipovetsky destaca que a moda é, antes de tudo, comunicação.

Ela nos permite pertencer – ou não – a determinados grupos. Quantas vezes você já se identificou com alguém só pelo que ela estava vestindo?

As roupas que escolhemos dizem muito:

  • Sobre nossa personalidade
  • Nossas escolhas
  • Nossos valores

Na sociedade de consumo, os itens de vestuário viraram símbolos de identidade e status.

A moda não é só uma tirania coletiva de tendências: ela também nos liberta para sermos quem quisermos.

Como a moda se encaixa na sua vida?

O Império do Efêmero não é só uma crítica à moda. É um convite à reflexão sobre o nosso próprio papel nesse sistema.

Mesmo a moda masculina, historicamente mais prática (fruto da "Grande Renúncia" – assunto para outro dia!), pode ser analisada com esse olhar.

Estamos consumindo moda ou sendo consumidos por ela? Estamos escolhendo roupas que nos representam ou só seguindo tendências?

Se existe a moda cheia de excessos e desperdícios, também existe a moda slow e o consumo consciente.

De qual lado você prefere estar?