O ato de beber café há muito é tratado como um ritual, seja de confraternização, de relaxamento, de aconchego. É antes uma experiência, que começa pelo olfato, ao sentir o cheiro do café torrado recém moído.
Os estabelecimentos comerciais na Europa consolidaram o uso da bebida como um agradável momento de descontração, e diversas casas de café ficaram mundialmente conhecidas como ponto de encontro de políticos e escritores, como o nossa famosa Confetaria Colombo, no Rio de Janeiro, o Gran Café Tortoni em Buenos Aires, a cafeteria A Brasileira, em Lisboa, Caffè Florian, em Veneza, o Café Central em Viena, o Café New York em Budapeste e o mais famoso deles, o Café de La Régence em Paris, onde se reuniam nomes famosos como Rousseau, Voltaire e Diderot.
As 3 ondas do café
Ao longo do tempo, vimos as chamadas “ondas do café”. A Primeira Onda teve seu marco no século XIX, quando houve o início do processo de industrialização do café e o consumo cresceu exponencialmente. A bebida deixou de ser um item de luxo, passando a ser facilmente encontrado nos supermercados.
A Segunda Onda começou no final dos anos 60 e se estendeu até metade dos anos 90. Ela surge em decorrência dessa falta de qualidade, nascendo uma nova forma de tomar café, agora com apreciação. As cafeterias começaram a entregar novas experiências, popularizando novas variações de bebidas, e educando os clientes sobre as origens dos cafés e como eram torrados. Por tornarem-se um lugar de encontro, prezava-se por um ambiente aconchegante, que fizesse as pessoas se sentirem em casa, como mostrado pela Série “Friends”, onde tinham poltronas confortáveis, e podiam sentar-se para aproveitar o momento mais do que a bebida. Tem como seu maior símbolo o Starbucks.
A terceira onda, dos anos 90 até os dias de hoje, é o período em que o foco passou a ser obter um café de extrema qualidade, o que passou pela rastreabilidade até a fazenda produtora, novos formas de processamento, torra, preparo dos grãos, criando toda uma nova cadeia de profissionais, que possível, para além do produto, compartilhar a história por trás da xícara.
É importante destacar que as três “ondas” coexistem, não havendo uma superação. Da mesma forma, podemos dizer que o mercado de café de determinada localidade já está na terceira onda, e ao mesmo tempo, que nesse local há consumidores em cada uma dessas “ondas”, com aqueles que ainda bebem café de supermercado, aqueles que já frequentam cafeterias e ainda os entusiastas que buscam o melhor de cada grão.
Outro relevante ponto a se destacar é que hoje as cafeterias não são mais a porta de entrada principal para o mundo do café especial, mas frequentemente as práticas cápsulas, que despertam pela primeira vez nas pessoas o interesse pelos diferentes sabores e bebidas que o café pode proporcionar.
Dessa forma, um dos interessantes efeitos de adentrar no mundo do café especial, é aproveitar a bebida para além da mera ingestão, mas também como uma experiência, em diversos aspectos. Claro, você não precisa ganhar um novo hobby ou incorporar tudo isso para apreciar o café especial. O ponto é que ele abre diversas portas para se apreciar o café de outras formas. Conhecer novos grãos, novos métodos, novas cafeterias ao viajar, surpreender com novos sabores, aprimorar o paladar, conhecer diferentes pessoas no processo, é algo divertido, além de enriquecedor.
Essa capacidade de entreter e reunir as pessoas nos leva a outra interessante porta que o café nos abre.
Confraternização
Como dito, o café há séculos é tratado como uma bebida de confraternização entre amigos. Enquanto as bebidas alcóolicas dominam o happy hour e encontros vespertinos, o café é a bebida ideal para as reuniões pela manhã e tarde.
Do café da manhã, ao brunch, passando pelo cafezinho rápido depois do almoço, chegando até o café da tarde, a bebida cabe em diversos horários, vai bem com diferentes tipos de comida e serve pra todo tipo de evento.
Um encontro para um café é ótima desculpa para rever um amigo no meio de uma tarde livre, ou vários deles, num café de domingo.
E essa versatilidade fez da bebida, principalmente durante o “horário útil”, fez dela uma importante ferramenta de confraternização no ambiente profissional.
Networking
O café é uma poderosa ferramenta de networking, negócios, ideias. Pode-se afirmar, ainda que sem provas, porém sem medo de errar, que uma parcela considerável de importantes negócios mundo afora foi realizada numa conversa ao redor de uma xícara de café.
Como dito, a bebida é um ótimo acompanhamento para reuniões, das complexas às descontraídas. Seja servindo clientes numa sala de reunião no próprio local de trabalho, seja marcando um encontro numa cafeteria.
Além disso, é igualmente importante nas relações internas. A clássica pausa para o café no meio do expediente é o momento certo para trocar ideias com colegas e pessoas de outros setores que você não vê com tanta frequência. Esse momento de interação serve tanto para ouvir a opinião dos colegas sobre as demandas atuais, ajudando a resolver problemas a partir de vários pontos de vista, nos fazendo retornar mais focados (inclusive com a ajuda da cafeína), como também fazer o oposto, quebrando o fluxo de trabalho para uma conversa agradável sobre amenidades, vida pessoal, eventos, esportes, nos fazendo voltar as tarefas mais leve e renovados
Ademais, nesses momentos são criados os maiores vínculos no ambiente de trabalho, em que se ganha amigos e uma rede de proteção.
E por fim, a mesma hospitalidade que o gesto de oferecer um café tem nas relações pessoais, também tem seu lugar no ambiente corporativo, sendo igualmente um gesto de cordialidade muito difundido, seja durante o tempo de espera de um cliente para ser atendido, seja durante o encontro em si.
Café especial
Como visto, conservar o hábito de beber café, além dos diversos benefícios que a bebida proporciona, também fortalece o relacionamento interpessoal, seja na esfera privada, seja no ambiente corporativo.
Por esta razão, consumir e aprender sobre o café especial, mais do que simplesmente agradar seu paladar, também pode, sem que se perceba, abrir diversas portas durante a vida, desde um primeiro encontro amoroso numa cafeteria charmosa, até um importante contrato fechado num café coworking.
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