As aventuras de Asterix e Obelix publicadas pela primeira vez em 1959 ganharam o mundo. O pequeno, valente e rabugento Asterix, seu amigo extremamente forte e glutão Obelix e seu inseparável cão Ideafix trazem consigo humor, história e entretenimento não só nos quadrinhos, como também nas telas de cinema, nas animações e têm seu carisma lembrado em diversos artigos.
Vercingetorix: um nome por trás dos quadrinhos
“Estamos no ano 50 a.C.. Toda a Gália foi ocupada pelos romanos... Toda? Não! Uma aldeia povoada por irredutíveis gauleses ainda resiste ao invasor.” A introdução sempre presente nas histórias de Asterix e Obelix remonta aos tempos da campanha de Júlio César pela conquista da Gália.
Júlio César, em sua intenção de levar riqueza e glória à República de Roma e de expandi-la, guerreou contra as tribos gaulesas, fez alianças, e, por fim, encontrou um grande desafio, um guerreiro e estrategista que conseguiu imprimir grande resistência ao domínio romano: Vercingetorix.
A campanha romana, que começou contra tribos gaulesas isoladas, acabou enfrentando uma união promovida por esse grande chefe dos guerreiros contra Roma. Os gauleses, evitando o conflito direto e realizando o que é chamado hoje de táticas de guerrilha e de terra arrasada, impingiram um enorme número de baixas a César. Para a conquista dos territórios a oeste do Rio Reno seria necessário derrotar Vercingetorix.
A criação de Goscinny e Uderzo
Esse nome que aparece lendário, como um símbolo de resistência francesa na história antiga, serviu de inspiração para os criadores de um dos mais famosos personagens de quadrinhos: Asterix. Ele e sua tribo de guerreiros resistem bravamente contra a presença romana. Porém, nos quadrinhos, a tribo se mantém ilesa à dominação romana e, ao contrário da habilidade estratégica de Vercingetorix, a receita para a força dos guerreiros da tribo vem da poção mágica preparada pelo druida Panoramix.
René Goscinny e Albert Uderzo criaram o quadrinho de Asterix e Obelix a partir da necessidade de produzir um material dentro de uma nova publicação que fugisse dos quadrinhos americanos, que se apresentavam em sua época, e que contivesse elementos da cultura francesa. Depois de algumas idéias, a busca ao passado trouxe a inspiração da Gália. A intenção era a de ter, simplesmente, dois grupos antagônicos: os romanos, sendo mais fortes e numerosos, e os gauleses, que tinham, na poção mágica, seu trunfo e sua forma de combater seus inimigos.
Com essa rivalidade contada em alguns parágrafos espalhados pelas publicações, o desenhista Uderzo e o roteirista Goscinny fizeram a trama desses guerreiros ganharem o mundo. E ganharam o mundo não só em mais de uma centena de idiomas e em várias mídias, como cinema e animação, mas no próprio enredo dos quadrinhos. Viajando ao Egito, à Grã-Bretanha, à Bélgica, à Espanha e a outras localidades, os guerreiros carismáticos entraram em contacto com povos que estavam sob o poder de Roma e os ajudavam, combatendo, ou auxiliando em desafios contra César, e chegaram até a terras mais longínquas.
Aspectos sempre presentes nas tramas são o humor, o jogo de palavras, os encontros e choques culturais e, claro, a presença dos protagonistas Asterix e Obelix, com seus companheiros gauleses: o druida Panoramix e o cão inseparável Ideafix. A repetição de alguns traços dos personagens é também fonte do humor do quadrinho: para Obelix a insistência em beber a poção, o que lhe é impedido de realizar por sua queda em um caldeirão cheio dela ao nascer, a sua voracidade em comer grandes quantidades de comida, o seu apetite por javalis e a sua vontade de entrar em disputa, sobretudo, contra soldados romanos; para Asterix, sua rabugice e seu senso de respeito e responsabilidade; para o cantor da aldeia, Assurancetourix, sua música insuportável aos ouvidos dos demais.
Nesse mundo divertido de personagens caricatos, o herói pequeno e seu companheiro grande e glutão se unem a vários personagens mundo afora sempre levando consigo seus traços culturais e seus deuses. O estranhamento com as civilizações estrangeiras fica quase sempre expresso nas palavras de Obelix, chamando-os de loucos ou dando a entender que o são.
Júlio César x Vercingetorix
A fantasia dessas incursões pelo vasto território romano nos dá a dimensão dos vários povos que fizeram parte de Roma. As viagens de Asterix e Obelix são formas de retratar características culturais presentes atualmente e também na época de Roma nos territórios daqueles povos antigos que eles visitam. Embora Asterix e Obelix saíssem de sua aldeia e combatessem de forma resistente o exército de César, o final de Vercingetorix não foi esse.
A resistência dos gauleses com Vercingetorix ao exército de César culminou em seu cerco em Alésia. Ali o exército de Júlio César construiu duas linhas de muros, uma cercando Alésia, oferecendo proteção contra ataques do exército de Vercingetorix; e outra exterior a essa primeira linha, oferecendo proteção contra ataques de outros gauleses que estavam se reunindo para dar apoio ao guerreiro gaulês. Com essa obra de engenharia militar constituída por fossos, estacas, armadilhas, muros e torres, depois de poucos dias os romanos estavam prontos para forçar a rendição daqueles que estavam em Alésia e para enfrentar aqueles que estavam a caminho. Depois de uma dura batalha, em que os romanos tinham grande desvantagem numérica, Júlio César saiu vitorioso e o gaulês se rendeu reconhecendo a derrota.
Apesar do desfecho, a bravura e a grande capacidade dos gauleses ficaram registradas na História junto à grande habilidade romana de conquistar e dominar. Fato é que Goscinny e Uderzo conseguiram, a partir desse grande episódio, extrair bons elementos que servissem de ingredientes para enredos que fossem ricos em aspectos culturais e humorísticos, misturando entretenimento e cultura, e agradando crianças e adultos pelo mundo desde a primeira publicação até os dias de hoje.
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