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Café especial: mais barato do que você imagina

Entenda a diferença entre o café especial e o tradicional, e como a seleção criteriosa e cuidadosa em todas as etapas de produção resulta em uma bebida de alta qualidade, livre de defeitos e com sabores e aromas incríveis.

graos de café

7 minutos

O café, sem nenhum exagero, se confunde com a história do Brasil. Contudo, apesar da estreita ligação com nossa terra, o cafeeiro não é nativo das Américas, e sim das estepes da Etiópia, sendo artificialmente introduzido no Brasil, inicialmente no estado do Pará, em 1729.

Primeiras Mudas de Café (1760), obra do pintor italiano Alfredo Norfini, retratando provavelmente o transporte das primeiras mudas do Pará ao Rio de Janeiro, fato ocorrido em 1760. No canto inferior direito, nota-se um cafeeiro sendo regado.

Do ramo de café que fez parte de nossa bandeira durante o império, aos fluxos migratórios de trabalhadores de diversas nações que vieram trabalhar na lavoura, e ajudaram a compor nossa riquíssima diversidade étnica, passando pela política do café com leite, que definiu as oligarquias que comandavam o país durante a República Velha, exemplos não faltam nos livros de história acerca da importância do café em nossa trajetória como nação.

Bandeira do Império do Brasil, apresentando ramos de café e tabaco junto ao brasão de armas imperial.

Igualmente, a bebida faz parte de nossa imagem para o mundo. Para além de nossa exuberante natureza, os símbolos mais icônicos do país são o samba, o futebol e o café. Mas afinal, o café é tão importante assim para nossa nação?

Nós produzimos muito (mesmo)

Sim, é.

Apenas para referência, entre 1835 e 1850, a produção de café no Rio de Janeiro sextuplicou, tornando o estado responsável por cerca de 80% da colheita nacional de café e 40% da produção mundial, o equivalente na época a chocantes +70% do PIB nacional brasileiro.

Embora a participação na nossa economia tenha reduzido, a participação mundial continua considerável. Nossas lavouras respondem por cerca de um terço da produção mundial de café, o que nos torna de longe o maior produtor - uma posição mantida nos últimos 150 anos.

Se considerarmos apenas o café arábica (70% de nossa produção), respondemos por cerca de 42% da produção mundial, com 40 milhões de sacas, das quais cerca de 25% são classificadas como “café especial”. Isso é tanto café que, se Minas Gerais, hoje o maior produtor, com 34 milhões de sacas, fosse um país, ainda sim seria o maior produtor, com mais do dobro do segundo colocado, Colômbia, com apenas 14 milhões de sacas.

A fama de nossa produção café era tamanha que viramos até tema de uma das mais famosas canções de Frank Sinatra:

Way down among Brazilians. Coffee beans grow by the billions. So they've got to find those extra cups to fill. They've got an awful lot of coffee in Brazil

E qual o ponto de tantos dados?

Te provar que a despeito do café de alta qualidade responder por apenas um quarto de nossa produção, dada nossa vastíssima lavoura, ainda assim a oferta crescendo aqui, no nosso quintal, é descomunal.

Entretanto, apesar de produzirmos tanto, o brasileiro médio lamentavelmente ainda bebe café de péssima qualidade.

O café especial

Ok, entendi, é muito café! Mas qual a diferença desse tal “café especial” para o café que habitualmente estamos acostumados a tomar?

Os chamados “cafés tradicionais” que vemos nas gôndolas de supermercado estão distantes dos níveis mais altos de pureza e qualidade, e podem ter até 20% de defeitos no seu blend, ou seja, grãos com defeito, verdes, pretos, passados ou ardidos, o que prejudica o sabor e o aroma.

Já os cafés especiais passam por uma rigorosa seleção e cuidado que vai desde o plantio (variedade, tipo de solo, altitude, temperatura, clima), passando pela colheita, secagem, torra e preparo, envolvendo toda a cadeia de produção, onde cada etapa influencia no resultado final, para produzir uma bebida com ausência de defeitos.

Convém destacar que “Especial” não é um adjetivo para alguns tipos de cafés, mas sim uma definição técnica para cafés de alta qualidade mundo afora.

Diferença entre café tradicional e especial e sua pirâmide de pontuação.

Enquadram-se nessa categoria os cafés que atingem ao menos 80 pontos numa escala de avaliação sensorial que vai até 100. Nesse método de avaliação, desenvolvido pela Specialty Coffee Association (SCA), são listados 10 atributos para avaliação do café – fragância, aroma, sabor, doçura, corpo, acidez, equilíbrio, uniformidade, finalização, defeitos, avaliação final (impressão geral sobre o café) – sendo pontuados cada um de 0 a 10, por um Q-Grader, um degustador de café treinado e certificado pela organização.

Essas informações podem parecer novidade, mas você provavelmente já viu na TV pessoas degustando café por meio de uma colher em forma de concha, fazendo a sucção da bebida com bastante ar e produzindo um barulho peculiar, o famoso “cupping”.

Mas você deve estar se perguntando: afinal, se produzimos tanto café de qualidade, era de se esperar que fosse mais acessível, e não várias vezes mais caro que o café tradicional.

É acessível. Embora pareça caro

Na verdade, café especial é barato. O que nos faz pensar que é caro é o referencial. Isso pode ser explicado pelo chamado “efeito enquadramento”, muito estudado por Daniel Kahneman, Nobel de Economia de 2002. Trata-se de um viés cognitivo que afeta a tomada de decisões pela forma que uma situação é apresentada, de modo que as respostas se alteram se as alternativas forem apresentadas em um contexto positivo ou negativo.

Dessa forma, se tivermos como referencial o café tradicional, que custa cerca de R$ 15 um pacote de 500g, um café especial de R$ 22 o pacote de 250g não será apenas um pouco mais caro, mas mais do triplo do valor! Por esse aspecto, é natural acharmos um absurdo pagar tanto a mais pelo “mesmo produto”.

Mas ao analisarmos a mesma situação apresentada de uma maneira positiva, vemos de repente que o café especial está longe de ser uma bebida de luxo, mas na verdade, é mais acessível que diversas bebidas que tratamos como comuns.

Com o referido pacote de 250g, podemos preparar cerca de 30 xícaras de 125ml, ao preço de R$ 0,73 cada. Ou seja, ainda que se tomemos duas xícaras, teremos um custo de menos de R$ 1,50 ao dia por 250ml. Já uma Coca-Cola lata de 220ml custa hoje por volta de R$ 2,50 nos supermercados.

Sim, pasme, o “requintado” café especial custa em média menos que um banal refrigerante, que, inclusive, geralmente consumimos em quantidades muito superiores. Se levarmos em consideração outras bebidas como suco, cerveja ou vinho, a diferença é ainda mais gritante.

Mesmo os cafés em cápsulas, que incorporam além da matéria prima, a complexa embalagem que nos permite preparar a bebida com tamanha praticidade, não são tão caros.

E não custa lembrar que, para além dos diversos e complexos beneficiamentos necessários até chegar ao ponto de preparo da bebida, estamos falando de sementes secas e torradas, que representam menos de 20% do peso dos frutos maduros que as originaram.

Ao considerarmos tudo isso, vemos o café especial não é em si uma bebida cara, apenas tendemos a vê-lo assim por compará-lo ao café de péssima qualidade que nos habituamos a consumir.

Há, além disso, diversos outros motivos para trocar o café tradicional pelo café especial. Mas isso é história para os próximos posts...