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Entrando no Detalhe #6 com Paulo Alves

Designer de Móveis e Arquiteto, Paulo Alves conta um pouco da sua trajetória profissional, referências e sua relação com vestuário no dia a dia.

7 minutos

Paulo Alves da Silva Filho é designer de móveis e arquiteto. Reconhecido internacionalmente por seu trabalho com diferentes tipos de madeira, ele resume sua obra com uma assinatura esclarecedora: Móvel Original Brasileiro. “Gosto dessa denominação pois descreve o que faço de forma simples e direta”, diz o paulista de Jardinópolis. A infância de pés descalços e de brincadeiras na rua, com intervalos para trepar nas mangueiras e colher a fruta madura, dava sinais do rumo que tomaria a vida de Paulo. “Acho que meu fascínio pelas árvores começou ali”, lembra.

“Acredito em cores neutras e peças com as quais eu possa passar o dia, sempre bem vestido e sem restrição de mobilidade.”

Crescendo, ele foi estudar arquitetura em Ribeirão Preto e, no meio do curso, migrou para a USP de São Carlos, onde tomou contato pela primeira vez com a obra da arquiteta italiana radicada em São Paulo, Lina Bo Bardi, conhecida, entre outras tantas obras icônicas, pelo prédio do Masp, na avenida Paulista. “Fui me aproximando da capital ao longo dos anos, até que fui parar no escritório de Lina Bo Bardi, de quem eu era grande admirador.” Paulo foi convidado a trabalhar na famosa Casa de Vidro, marco da arquitetura modernista projetada por Lina, para fazer a organização do acervo da arquiteta. Tomou contato com o mobiliário desenvolvido por ela e, ali, uma chave virou. Paulo foi trabalhar, então, na Marcenaria Baraúna, renomado escritório de design para móveis. “A Baraúna foi uma grande escola para mim. Durante os anos, fui formando a minha identidade, até que surgiu a inevitável vontade de lançar meu projeto próprio, inaugurado em 2004”, lembra. Do bairro do Cambuci, na região central de São Paulo, abriu loja na Vila Madalena, e agora se prepara para expandir o espaço inaugurado na República, no térreo do prédio onde mora atualmente.

O design precisa ser feito com o que você tem à mão, o que está próximo e disponível, e a diversidade de materiais é essencial quando se fala em marcenaria, tanto pelo visual, quanto pela sustentabilidade

Além de Lina Bo Bardi, o trabalho do arquiteto Maurício Azeredo, que combina diferentes tipos de madeira em seus móveis, a arte neoconcreta de Amílcar de Castro e a MPB de Caetano e Gil são eternas fontes de inspiração para Paulo Alves. Observador, ele aposta muito na intuição e na experimentação para conseguir avançar no que faz e evitar o lugar comum. “Na marcenaria que acredito, a madeira, com as suas características naturais, é a protagonista. O design precisa ser feito com o que você tem à mão, o que está próximo e disponível, e a diversidade de materiais é essencial quando se fala em marcenaria, tanto pelo visual, quanto pela sustentabilidade. Desde a época da exploração do Pau Brasil, focar em um ou apenas em alguns tipos de madeira é um erro recorrente. Esse é um grande problema do design de interiores hoje: os projetos são sempre com a mesma madeira, o que torna o resultado visualmente pobre e sem diversidade, além de ser péssimo para a natureza”, explica ele, premiado em 2009 por ter usado em sua cadeira Atibaia a catuaba, uma madeira que não era nem catalogada à época. “Precisamos valorizar mais o que temos, manter as sabedorias ancestrais, pesquisando e buscando novos tipos não só de madeiras, mas de todos os materiais que a floresta pode oferecer. Isso é essencial para a valorização e, consequentemente, a preservação das florestas. Afinal, somos mais globais quando somos originais; é preciso oferecer algo novo, não dá para chegar na festa vestido igual aos outros.”

O colorido da mistura de matéria-prima na obra de Paulo acompanha o visual e o processo da floresta, onde no mesmo pequeno espaço encontramos inúmeras espécies. “Esse é o caminho a seguir, uma extração diversa e responsável.” A preocupação com a sustentabilidade levou o designer a colaborar e se envolver em projetos como o da Floresta Nacional do Tapajós, uma reserva nacional na qual os ribeirinhos conseguiram concessão para fazer extrativismo responsável em uma área delimitada, mantendo assim a comunidade e preservando a floresta. “Eles criaram uma movelaria para utilizar o que não conseguem vender, fazendo móveis incríveis com galhos mais retorcidos ou raízes. Além do aspecto sustentável, esse projeto valoriza o popular, dando importância ao que é original, um design que foge do padrão de movelaria que vemos por aí”, conta Paulo, que ajuda os locais a desenvolverem as peças e as coloca para vender em São Paulo. Os galhos apareceram como protagonistas pela primeira vez na obra de Paulo com a estante Floresta, de 2007. Antes disso, em 2003, ele havia lançado outro de seus hits: o buffet Cercadinho, ainda com linhas mais retas. Sucesso global, a peça ocupa lugar de destaque na casa do ator George Clooney.

A herança minimalista no repertório profissional de Paulo Alves vê-se refletida nas produções pessoais e nas roupas que veste no cotidiano. Assumidamente influenciado pela esposa Carol – que o define como “contemporâneo minimalista” –, ele admite já ter sido mais eclético e revela um amor pela alfaiataria. “Adoro, mas acho um pouco engessado para usar no dia a dia. Gosto de peças com mais movimento, com poucos detalhes, sofisticação e materiais de primeira”, conta. Para ele, o conforto é indispensável em roupas versáteis, capazes de encarar reuniões, trabalhos manuais no ateliê e jantares no fim do dia.

Acredito em cores neutras e peças com as quais eu possa passar o dia, sempre bem vestido e sem restrição de mobilidade.

Não à toa, as calças 247 e Maleável da Oficina, além de roupas de linho e de materiais tecnológicos que não amassam, estão no topo das preferências de Paulo.

Apaixonado pelo Centro de São Paulo, onde vive e trabalha, Paulo se locomove frequentemente com uma bicicleta elétrica e acredita na ocupação dos espaços, sejam eles urbanos ou na floresta. “Gosto da fauna que vejo passar pelo Centro; é onde encontro a maior diversidade de espécies. É absurdo não valorizar a região, a gente tem de ocupar e mostrar o que temos de melhor. É uma ocupação como forma de resistência, afinal, como dizia o grande arquiteto Paulo Mendes da Rocha, ‘cidade existe para nos encontrarmos, para conviver com os outros.”