Eu sou Sylvain Justum, filho de pai francês e mãe brasileira, uma mistura que explica muito da minha personalidade e do meu olhar profissional. Nasci em Brasília, morei na Itália e na Argentina, mas me fixei em São Paulo. Como editor de moda, aprendi a construir textos e imagens ao longo de uma trajetória de quase 25 anos e a manter as antenas ligadas para as mudanças de direção do mercado. Passei pelos principais veículos do setor, como Vogue, Harper’s Bazaar e GQ. Atualmente, além de ser redator-chefe da revista semestral ForbesLife Fashion, me aventuro também no vídeo e em podcast. Com a valiosa colaboração da equipe de marketing da Oficina, crio conteúdo para as plataformas digitais da marca e sou responsável pelo que você lê aqui neste blog – daí o depoimento em primeira pessoa que vem a seguir.
Trabalhar com moda não estava nos meus planos. Apesar de ter sido uma criança muito preocupada com combinações e materiais das roupas que vestia, e de ter folheado mil revistas de moda e comportamento na adolescência, eu não enxergava esse universo como uma possível carreira. Tanto é que fui fazer faculdade de Publicidade e Propaganda depois de ter me formado no Lycée Pasteur, colégio francês que manteve viva a minha conexão com o país de Serge Gainsbourg – o compositor, cantor e cineasta é, até hoje, o meu maior ídolo no campo da cultura e do estilo. Depois de ter trabalhado como contato publicitário de uma revista de móveis e decoração, consegui um job como assistente de produção de moda na revista Vogue, e aí começou a minha trajetória na moda.
Subi degrau por degrau na carreira. De assistente, fui produtor, stylist e, finalmente, editor de moda. Cruzei com os melhores profissionais do mercado nesse caminho, o que, certamente, me ajudou bastante. Fui stylist da jornalista e apresentadora Lilian Pacce por sete anos no programa GNT Fashion, mas a escrita veio depois. No boom dos blogs de moda, na primeira metade dos anos 2000, decidi lançar o Hypercool, dedicado à moda masculina, uma paixão que eu ainda não havia explorado a fundo. Foi o início de um caso de amor com o estilo do homem e com os textos de moda. O blog e a experiência digital me levaram a ser editor do site Vogue quando estreou, em 2010. No ano seguinte, assumi a direção de moda da revista GQ, bíblia de estilo masculino recém-lançada no Brasil. Fiquei lá por cinco bons anos. Aprendi a entender as necessidades e vontades do homem brasileiro, que foi derrubando tabus e evoluindo rapidamente. Percebi que a comunicação precisava ser mais pé no chão, objetiva.
Durante o período na GQ, cobri por diversas vezes as temporadas internacionais de desfiles em Milão e Paris, o que me permitiu observar ruas e passarelas com lupa para antecipar as próximas tendências para o público brasileiro. Muitas vezes, o melhor exercício de estilo estava na vida lá fora, na calçada das grandes cidades, e não nas apresentações das marcas. O meu lado francês me fazia observar as ruas com um filtro mais real. A maior riqueza na construção dos looks acontecia, com frequência, no metrô, e não nas avenidas mais badaladas de Paris. Assim percebi que a mania da barra da calça dobrada, mais curta, era um caso sério e iria conquistar o mundo. Aconteceu o mesmo com as shoulder bags, que os garotos da periferia já usavam antes de aparecerem nas coleções das maiores grifes. Desde então, analisar o que as pessoas vestem nas ruas virou exercício tão fundamental quanto acompanhar as temporadas de moda. Em São Paulo, adoro flanar pela Avenida Paulista, a mais democrática da cidade, na minha opinião. O high and low na mistura de personagens e estilos ali é único. Claro que a região do Centro, Jardins e Pinheiros também seguem como ótimos laboratórios a céu aberto.
Meu estilo pessoal evoluiu bastante ao longo dos anos. Hoje, sou muito mais prático e minimalista, prefiro cores neutras e fáceis de combinar entre si. Preto, branco, cinza e azul marinho formam a base do meu guarda-roupa e estampas são raras, com exceção de algumas listras. Gosto de roupas versáteis, que me deixem pronto para enfrentar uma sequência de chamadas de vídeo em casa, um almoço de trabalho ou um evento no fim do dia. Prezo muito por uma boa modelagem, conforto e qualidade de materiais. Não por acaso, é tudo o que eu encontro nas araras da Oficina.
“Minhas peças preferidas na marca são a calça maleável – perfeita união de conforto e silhueta –, as camisetas pretas de algodão pima premium e os tênis de couro branco da Vert Shoes, vendidos na loja. É clássico, básico, mas com um twist.”
Amadurecer um estilo pessoal demanda tempo e informação. Se hoje sei o que me favorece foi porque experimentei, defini meus tamanhos de roupa – não é incrível o quanto os homens ainda desconhecem a numeração de seus blazers ou calças, por exemplo?! – e adotei a estética que melhor funciona para a minha personalidade, sem sucumbir à dança das tendências. Não é porque muita gente usa calça skinny ou a estampa multicolorida da estação que eu também preciso usar. Em tempos onde o verdadeiro luxo é consumir menos e melhor, escolher o melhor custo-benefício na hora de investir em roupas novas também é uma sábia decisão. Orientar os homens nessa missão é uma das minhas atividades principais atualmente.