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Israel Salmen, Cofundador da Meliuz

No braço esquerdo de Israel Salmen está tatuada uma frase em russo. “Nada é impossível”. Seu ídolo é Jack Ma, o professor chinês que deixou as salas de aula e virou um empresário bilionário à frente do grupo de tecnologia Alibaba.

“De 3 em 3 meses as coisas têm que mudar aqui dentro. Ou o negócio morre.”

Para Israel, Ma é uma prova viva do que está gravado em sua pele. Em 2011, o mineiro de Governador Valadares e seu sócio, Ofli Guimarães, fundaram o Méliuz, um site de cashback, sistema em que os usuários se inscrevem, compram nas lojas parceiras e recebem de volta uma parte do dinheiro gasto – enquanto o Méliuz ganha uma comissão sobre as vendas. “Queríamos algo que tivesse a ideia do ganha-ganha-ganha, em que todo mundo sai feliz”.

Essa vontade de criar um negócio em que todas as pontas estejam satisfeitas – pelo menos em boa parte do tempo, veio do momento em que seu negócio anterior, uma gestora de investimentos, parou de mantê-lo animado nas segundas-feiras. “No mercado financeiro não tinha esse sentimento de ganha-ganha e é difícil satisfazer o cliente. Quando ele não ganhava ou ficava empatado, ficava infeliz. E, quando ganhava, também ficava infeliz porque queria ter ganhado mais.”

Nesses oito anos, o Méliuz quase quebrou, conseguiu se reerguer, foi eleito a startup do ano em 2016, criou uma gestão de pessoas descentralizada que já elegeu 30 sócios, e devolveu R$ 78 milhões aos usuários. Agora, além das vendas online, está expandindo sua atuação para supermercados e farmácias com lojas físicas. Aqui, Israel conta com mais detalhes de como foram essas reviravoltas – e diz porque acredita que tudo pode se transformar em realidade.

Com 14 anos você já tinha seu primeiro negócio. Qual a vantagem de começar cedo?

Meus pais já empreendiam, têm seus negócios, então pra mim pareceu muito normal ter meu negócio, era um caminho natural. Eu nasci num lar privilegiado, é verdade, mas meu pai nunca me deixou olhar pra dentro de casa, sempre me incentivou a correr atrás das minhas coisas, não me deixaram misturar família e trabalho. Hoje, quando eu escuto algumas pessoas querendo empreender, mas com muito medo de encarar riscos, com dificuldades em começar, em “dar o primeiro passo”, eu entendo mas parece algo distante porque comecei cedo. Com 14 anos eu não tinha muito medo, nunca vi esse começo como um passo grande na vida – e ganhei essa facilidade de lidar com risco. Hoje, claro que eu tenho frio na barriga quando vou fazer algo totalmente novo, mas é isso. Não é sentimento que me paralisa, é algo que me move. Tem dia que você pensa em desistir, depois fica feliz, no outro dia você tá triste de novo, isso faz parte de se ter uma empresa. Não saber direito o que vai acontecer no dia de amanhã é algo me motiva.

Como foi esse primeiro passo rumo ao empreendedorismo?

Eu nasci num lar evangélico e, nos eventos que eram organizados pela comunidade evangélica na minha região, não existiam fotógrafos que tiravam fotos e publicavam depois em algum site para que as pessoas pudessem baixar. Mas era comum isso acontecer em baladas, em boates. Então pensei em usar o mesmo modelo de negócios e fundei o Galeria Gospel. Um site que enviava fotógrafos a eventos da comunidade evangélica e depois publicava para que as pessoas baixassem. Não havia Instagram, Orkut estava começando. E deu tão certo que, em menos de um ano, já estávamos em quatro cidades, em três estados diferentes: Governador Valadares (MG), onde nasci, Belo Horizonte (MG), João Pessoa (PB) e Guarapari (ES). Percebi, então, que o eu curtia fazer era algo que deixasse as pessoas felizes e continuei perseguindo esse desejo.

Quem é sua inspiração no mundo dos negócios?

Eu acho a história do Jack Ma incrível. Um chinês que, em 1999, era um professor de inglês e hoje é um dos homens mais ricos do mundo… E não é pela grana que eu me inspiro, mas por ele ter saído de onde saiu pra ser um dos maiores empresários que conhecemos em apenas 20 anos, pelo jeito dele lidar com a equipe. Tem que acreditar que nada é impossível, como eu acredito e como tento passar pro meu time.

Você e o Ofli fundaram uma gestora de investimentos durante o curso de economia que fechou pouco depois. O que deu errado?

Nós tínhamos 19 anos e criamos uma empresa que tinha como objetivo principal bater na porta de grandes empresários e perguntar: “Por que você não tira seu dinheiro dos grandes bancos de investimento e vem investir com a gente?”. Eu não tinha essa barba na cara pra passar credibilidade, vestia uns ternos mal cortados e acho que foi uma experiência gigante porque tomamos muita porrada. A quantidade de não que a gente tomava era inacreditável. Mesmo assim a gente aprendeu muito. Conseguimos clientes e até um bom montante para administrar. O que deu errado foi que, depois de um tempo, nossas segundas-feiras começaram a ficar chatas. O negócio em si começou a ser frustrante porque os clientes nunca estavam satisfeitos. Se ganhavam, achavam pouco. Se perdiam, nem se fala. E se ficavam na média, também não estavam felizes. A gente não conseguia ter a sensação de que estava entregando algo realmente bom em 100% do tempo e acabamos vendendo a gestora. Foi aí que veio a ideia do Méliuz, que era de fazer algo em que todo mundo ganhasse o tempo todo, o tal do ganha, ganha, ganha.

Qual foi o maior aprendizado da trajetória no Méliuz?

Um deles foi o primeiro investimento que a gente levantou, cerca de R$ 400 mil, e gastou na hora errada. Esse dinheiro desapareceu rapidamente. Eu não recomendo que se levante investimento logo no início do negócio pois isso tira o foco do que é realmente importante, que é construir um produto muito bom e trazer clientes apaixonados pelo seu produto. Porque, no começo, você não sabe o que você tá fazendo, e a gente não sabia. Investimos muito dinheiro em marketing, trazíamos clientes mas eles só compravam uma vez – e com isso você não tem um negócio. A gente devia ter começado pequeno, entendido os usuários, entendido o que fazer para que eles voltassem a comprar, como fazê-los indicar amigos, o que mostra que a pessoa se apaixonou pela ideia. E, depois, quando tudo isso estivesse rodando, aí sim buscar investimento para trazer milhares ou milhões de clientes. Acho que teríamos chegado mais rápido onde estamos hoje. Digo que perdemos uns dois anos com isso, mas reforçamos um dos pontos principais de nossa cultura hoje, que é priorizar e simplificar. Cansei de ver esse comportamento entre empreendedores que estão começando e acho que esse é um dos principais conselhos que eu posso dar para quem está no dando os primeiros passos.

Fotos: Tomás Artuzzi

Todo ano, vocês escolhem novos nomes entre os funcionários para serem sócios. Como funciona essa escolha?

Nem todos os sócios estão ligados a cargo de gestão. É alguém que se destacou no que faz. Autonomia é importante, dar às pessoas a chance de inovar, implantar ideias, errar e aprender. Se eu comecei assim, porque não vou deixar o time fazer? Se essa pessoa for sócia, se tiver o sentimento de dona, ela sente o peso e a responsabilidade de fazer não só o trabalho dela bem feito mas de mostrar para os outros o caminho para isso. Dos 150 funcionários, 30 são sócios. A gente criou um processo: as pessoas que acham que estão prontas para serem sócias nos escrevem uma carta contando sua trajetória antes e durante o Méliuz. E também projetando seu futuro conosco. Elas escrevem dezenas e dezenas de páginas. Teve gente que já escreveu livro com foto, super produzido. E eu e o Ofli lemos cada uma das cartas, palavra por palavra, e escolhemos as que achamos que merecem. Quase todo mundo entra porque, se a pessoa teve a coragem de se candidatar, é porque ela sabe que merece a vaga. Se naquele ano achamos que ainda não é a hora, a gente aponta o que falta pra que a pessoa corra atrás e tente novamente na próxima rodada.

Que mudança você queria ver no ambiente de empreendedorismo do Brasil?

Já estou vendo. Em 2011, quando começamos, não existiam muitas empresas que a gente podia olhar e se inspirar. Havia poucas pessoas com algum legado importante. Hoje, tem uma série de empreendedores em volta que nos inspiram o tempo todo. O nosso “São Pedro Valley” [São Pedro é o bairro de Belo Horizonte onde algumas empresas de tecnologia começaram] em Belo Horizonte, é cheio de empreendedores muito bacanas e inovadores. Alguns deles já venderam suas primeiras empresas e estão investindo em outras. Ou mesmo quem não vendeu apóia e ajuda quem tá começando. É esse ecossistema que eu quero ver se desenvolvendo. Por isso não perco a oportunidade de apoiar quem está começando e repassar o que aprendi.