Quem vê a pacata cidade de Augsburgo, atualmente, não consegue imaginar quão dinâmica era a cidade por volta do século XV. Localizada no norte da Suábia, no estado da Baviera, na atual Alemanha, Augsburgo era nessa época uma cidade livre que estava dentro dos limites do Sacro Império Romano-Germânico. Sua atividade principal era a produção e o comércio têxteis. Quem chega hoje à cidade tem alguns vestígios desse passado movimentado e de grande prosperidade quando se depara com algumas edificações como a Torre Perlach e a Prefeitura, de 1624, com seu impressionante Salão Dourado.
Localizada na antiga estrada entre Veneza e Colônia e tendo sido pouco atingida pela Peste Negra, a cidade, que era governada pelos comerciantes e produtores de tecido, tornou-se um ambiente propício para o crescimento do comércio e para o acúmulo de riqueza. Esse cenário contribuiu para o surgimento de um personagem marcante, dono de uma das maiores fortunas que o mundo já viu e de influência incomparável: Jakob Fugger.
Origem e Carreira
Seu avô, Hans Fugger, era plebeu, camponês, mas conseguiu prosperar mudando-se para Augsburgo e obtendo êxito como negociante de tecidos. Com bons casamentos e com uma ajuda dada ao então imperador da época, a visibilidade da família aumentou, assim como aumentaram as chances de sucesso das novas gerações. Embora fosse um dos mais novos entre os irmãos, Jakob, que recebera o nome do pai, acabou não seguindo a vocação religiosa, que por pouco teria sido seu destino. Em vez disso, Fugger fora mandado para Veneza, onde aprendeu grandes lições de contabilidade e de gestão enquanto esteve junto aos negociantes de origem germânica.
Ao retornar para Augsburgo, ele estava pronto para iniciar sua longa e bem-sucedida carreira. Assim, Jakob começou na empresa junto a seus irmãos viajando para feiras e visitando filiais. Em um determinado momento, ele foi enviado para o Tirol, onde a mineração se tornaria outra de suas áreas de atuação. Fugger aos poucos ganhou a confiança do arquiduque Sigismundo, primo do imperador e senhor do Tirol e de outros domínios. Com um grande empréstimo concedido a Sigismundo, Jakob ganhou o direito à produção de prata de Schwaz, responsável em seu auge por oitenta por cento de toda a produção do metal na Europa. A partir desse momento, Fugger começava a crescer em fama, em riqueza e em relacionamentos importantes.
Ao longo de sua trajetória, Fugger manteve-se próximo à Casa dos Habsburgo, que, em sua época, tinha ascendido e passara a ocupar posição de destaque dentro do cenário de poder na Europa. Os Habsburgo tornaram-se imperadores do Sacro Império Romano-Germânico, e um de seus principais credores era Fugger. Ele possuía grande proximidade com Maximiliano, e sua grande capacidade de fornecer empréstimos e sua credibilidade junto aos eleitores do Império lhe deram também prestígio perante Carlos V, que só se tornou imperador por meio dos subornos pagos por Fugger.
Como grande comerciante e banqueiro, Fugger enfrentou poderosos concorrentes. Entre eles estavam aqueles de sua própria cidade e também os de outras localidades, como os banqueiros da atual Itália e a Liga Hanseática, uns por suas relações com os Papas, outros pelo monopólio do comércio nos mares do Norte e Báltico. Na área da mineração, além da prata, outros importantes metais explorados por Fugger foram o cobre da Hungria, cobre esse que chegava à sua própria fundição-fortaleza, o Fuggerau, e o mercúrio da Espanha. No comércio, Jakob Fugger obteve destaque também com as especiarias. Ele financiava viagens à Índia e com o tempo passou a manter o monopólio da distribuição de especiarias para a Europa. Há, ainda, indícios, mas não certos, de que teria sido Fugger um dos financiadores da expedição de Fernão de Magalhães.
Fugger construiu sua fortuna com base em sua habilidade administrativa, contábil, em seu senso de oportunidade e de negociação e em suas relações de grande influência. Ele era banqueiro e atuava também no comércio e na mineração. Tendo relações com a nobreza, com o clero e com as principais monarquias da Europa, Fugger e seus sucessores influenciaram importantes decisões e os rumos históricos de vários eventos, dentre eles: as eleições imperiais, as Guerras dos Camponeses e a Esmalcalda, todos esses fatos ocorridos dentro do Sacro Império Romano-Germânico. Ele, ainda, tinha poder suficiente para controlar preços, graças a seus monopólios e a suas participações em associações comerciais, o que o fazia ser muito perseguido e combatido por seus rivais concorrentes ou, simplesmente, aqueles contrários a seus métodos.
Fugger morreu aos sessenta e seis anos, deixando para seus herdeiros um patrimônio vastíssimo entre os quais estavam a Jakob e Sobrinhos, seus feudos, adquiridos ao longo de sua vida, e suas concessões de mineração. Entre seus herdeiros, aquele que continuou no comando da empresa de Jakob, foi Anton Fugger, dando prosseguimento ao seu legado.
Legado
Quinhentos e sessenta e cinco anos depois de seu nascimento, ainda hoje vemos suas marcas na cidade de Augsburgo. A mais notável é um dos principais pontos turísticos da cidade: o Fuggerei. Ali vivem idosos de baixa renda, que por uma quantia módica de oitenta e oito centavos de euros ao ano, e três preces diárias para Fugger, têm uma habitação modesta e digna, sendo hoje 142 residentes, em sessenta e sete construções. Esse foi o primeiro grande complexo de habitação social da História, e ainda é mantido por pelos Fugger de hoje em dia. Além do Fuggerei, vê-se também estátuas de Fugger e museus, em que sua imagem e sua história aparecem.
Outra importante contribuição de Fugger foi a sua organização e o seu cuidado com a contabilidade. O método das partidas dobradas, aprendido em Veneza, considera que cada movimentação financeira apresenta dois registros – um de entrada e outro de saída – podendo-se considerar ainda outros, como taxas etc. Com ele, o administrador tem capacidade de gerir melhor as suas operações e sua quantidade de dinheiro disponível. Com esse método, Fugger pôde avaliar suas ações, manter-se estável e, até mesmo, arriscar-se, sabendo dos riscos em que se punha. Ele demonstrou como, por esse método, a sua contabilidade, ao contrário das de seus contemporâneos, era mais organizada e previsível.
Já em relação a sua riqueza, a mensuração se dá não só pela atualização dos valores por correção monetária ou algo semelhante. Considera-se também ao avaliá-la, a quantidade de riqueza disponível em sua época, e também como sua riqueza poderia influenciar nas decisões e eventos de seu momento. Fugger sempre se mantém nas primeiras posições das listas dos homens mais ricos da História. Embora pouco mencionado e conhecido, Jakob Fugger foi um dos homens mais decisivos de sua época, podendo, a partir de seu escritório, determinar de grandes operações financeiras até influenciar ações políticas que modificariam os rumos da História. Sendo sua trajetória e suas realizações verificáveis em alguns estudos e biografias, a figura de Jakob Fugger vale, sem dúvida, bem mais do que uma simples nota de rodapé nos livros de História.
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