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Edu Lyra, fundador Gerando Falcões

Edu Lyra, fundador da ONG Gerando Falcões, nos conta como sua vida se transformou ao longo dos anos por meio do empreendedorismo social.

Jorge Paulo Lemann. Elie Horn. Ana Maria Diniz. Daniel Castanho. Eis alguns dos nomes de peso com os quais Edu Lyra ganhou intimidade. Tudo em prol da ONG Gerando Falcões, criada por ele em 2011. Determinado a transformar a pobreza das favelas — com a qual conviveu durante anos — em um “item de museu”, Lyra se converteu em um dos empreendedores sociais mais respeitados do país. E ele diz que está só no começo.

Quem foi o Edu Lyra criança?

Quando nasci, o sistema colocou uma bomba relógio no meu pescoço. É a bomba relógio da pobreza. Você sabe que ela vai explodir em algum momento e que é preciso desarmá-la. Minha obsessão de vida foi superar a pobreza. E eu fiz isso porque tive uma grande inspiração dentro de casa, a minha mãe, que me criou sendo diarista. Morávamos na favela, num barraco com chão batido de terra. Nos nove primeiros meses de vida, dormi em uma banheira azul, que fazia as vezes de berço. Meu pai acabou virando assaltante e foi preso por roubar um banco. Apesar disso tudo, todos os dias a minha mãe olhava nos meus olhos e dizia: 'filho, não importa de onde você vem, o que importa na vida é para onde você vai. E você pode ir para onde quiser'.

Onde foi sua infância?

Sou filho da improbabilidade. Do zero aos oito anos de idade eu vivi nessa favela em Guarulhos, no Jardim Cumbica. O meio ‘introduzia’ uma espécie de vírus na minha cabeça, dizendo que eu não podia fazer um monte de coisas, e minha mãe ‘passava um antivírus’ todo dia, me incentivando a olhar para frente. Estou aqui hoje por causa da minha mãe. Foi a primeira grande empreendedora que conheci na vida. Nunca teve um CNPJ, nem um cartão de visita, mas criou um produto extraordinário: eu. Aprendi muito com ela e também com meu pai, quando ele largou o crime e voltou para casa.

Você lembra exatamente de quando resolveu ajudar outras pessoas?

Houve vários momentos. A pobreza também afeta as pessoas do ponto de vista emocional. Eu precisava me curar dela e olhar para frente. Como? Sonhando. Meu corpo estava naquele barraco, mas minha cabeça, não. Era isso ou continuar naquela realidade. Tive que criar uma espécie de ficção social para a minha vida. O que significa isso? Projetar-se em outro lugar, acreditar que dá para alcançar coisas que pareciam absolutamente inimagináveis. Mas minha vida foi uma exceção da exceção. Meu papel é transformar cada espaço que consigo, cada networking, cada audiência em uma plataforma de transformação e impacto social de superação da pobreza. Tanto que a missão da Gerando Falcões é transformar a pobreza da favela num item de museu antes de Marte ser colonizado. Se a Ciência permite que a humanidade vá até lá, deve existir uma maneira para resolvermos os problemas mais básicos aqui de baixo.

Você chegou a fazer faculdade de jornalismo. Sua ideia inicial era contribuir de outra forma?

Não me formei, mas foi uma experiência importante. Foi na faculdade que comecei a empreender. Durante o curso eu tive a ideia de escrever um livro, que dei o nome de “Jovens Falcões”. Eu queria provar para meus amigos, jovens da comunidade, que existem muitas outras opções além de ser bandido e traficante. Mandei esse livro para uma editora, mas ela não quis publicar. E daí decidi captar patrocínio com empreendedores e deu certo. Publiquei o livro, que depois mandei para uma livraria. Mas ela também não se interessou pelo projeto. O jeito foi montar um time com 30 jovens que saíram vendendo o livro de porta em porta na favela e na periferia por 9,99 reais. Em três meses, 5.000 unidades foram vendidas.

Não é pouca coisa, já que no Brasil as tiragens começam em 3.000.

E eu usei o dinheiro da venda para fundar a Gerando Falcões. Ela começou do nada, da escassez. Tem uma frase que adoro: 'imaginação é você olhar para um coqueiro e ver um cabelo'. Lembrei dela porque eu ficava me imaginando em uma nova posição de liderança, empreendendo. E sempre vi o empreendedorismo como uma ferramenta capaz de transformar vidas e o país.

Qual foi seu maior erro e seu maior acerto?

O maior erro foi ter apostado todas as fichas, nesses 12 anos, num único motor, o da filantropia. Ela foi muito boa para a Gerando Falcões, nos trouxe até aqui. Mas eu poderia ter equilibrado isso com um segundo motor pensando na perenidade do projeto e para servir de exemplo para o terceiro setor. E um acerto foi ter criado há pouco As Maras [programa de venda direta da ONG]. As mulheres participantes já estão gerando renda e melhorando a qualidade de vida de suas famílias.

Qual é sua maior qualidade como empreendedor?

Eu não tenho medo do novo, o desafio me estimula e eu preciso dele para viver. E sempre tive coragem de fazer o que precisava ser feito. Em terceiro lugar, destaco a humildade, necessária para a escuta e para a aprendizagem. Por último, tenho o trabalho como um valor. Estou disposto a trabalhar o quanto for preciso para concluir a missão da Gerando Falcões nos próximos 14 anos. É um compromisso de vida.