Dos 16 livros publicados pelo gaúcho Gustavo Cerbasi, doze continuam à venda. Tudo somado, ele atingiu a marca de 3 milhões de exemplares comercializados. Muita gente teve contato com o maior best-seller dele, "Casais Inteligentes Enriquecem Juntos", mesmo sem ter lido uma única página do livro. Explica-se: a obra serviu de inspiração para a trilogia “Até que a sorte nos separe”, uma das maiores bilheterias do cinema nacional.
Você já publicou 16 livros e vendeu mais de 3 milhões de exemplares. Como chegou a esse patamar?
No começo, eu não me imaginava trabalhando com finanças. Me formei em administração pública e era convidado a explicar — de uma forma melhor, talvez — o que professores altamente capacitados, que eu admirava, ensinavam aos alunos da faculdade. Só que os estudantes não se satisfaziam com as aulas deles. Como professor-assistente, eu dava aulas complementares antes das provas. Comecei com contabilidade, um dos assuntos que os estudantes de administração menos gostam. Mas em algum momento veio um estalo de ensinar essa disciplina não com base nos livros de contabilidade, mas com base na declaração de imposto de renda dos alunos. Comecei a ensinar sobre ativos e passivos, por exemplo, a partir da seção de bens e direitos do imposto de renda.
Você trouxe a disciplina para a vida real.
Exatamente. Essa ideia provocou um pequeno encantamento sobre o assunto, e muita discussão nos intervalos das aulas. Os alunos começaram a me fazer uma porção de perguntas sobre planejamento, mas eu não sabia tirar todas as dúvidas. Foi assim que surgiram minhas primeiras aulas de finanças pessoais que, num dado momento, deram origem a uma apostila. Em seguida, um aluno, dono de uma editora, me convidou para escrever meu primeiro livro, “Dinheiro: os segredos de quem tem”, lançado em 2003.
E como veio o segundo livro?
Achei que minha incursão no mundo editorial se encerraria com o primeiro livro. Só que passei a dar muitas entrevistas. Todo mundo queria saber por que um mestre em finanças tinha escrito um livro numa linguagem popular, de autoajuda. Em um ano, “Dinheiro: os segredos de quem tem” vendeu quase 10 mil exemplares, um ótimo número. Que levou ao convite para o segundo livro. A escrita desse foi bem mais fácil porque eu já tinha acumulado muitas perguntas e respostas sobre vários temas — filhos, investimentos, previdência, INSS. Defini o assunto depois que meu editor perguntou qual era o tipo de pergunta que mais me faziam — era sobre casais. Assim nasceu "Casais Inteligentes Enriquecem Juntos".
O sucesso desse segundo livro também foi uma surpresa?
Para meus editores não foi tanta surpresa, mas para mim foi um choque. O primeiro livro foi o que mais deu trabalho e nos outros fui abordando temas que ficaram de fora. Em "A riqueza da vida simples", o último, quis falar com um público de baixíssima renda que talvez não acredite em nada do que está dito nos outros quinze livros. É uma parcela que talvez ache impossível organizar as finanças e reduzir o orçamento. Foi lançado pouco antes da pandemia e acabou virando um grande manual de revisão de estilo de vida em meio a rupturas de renda. É o meu quarto maior best-seller.
Você reinventou sua carreira, mas não de forma planejada, certo?
Fui surfando as oportunidades que surgiram. Por que não deu para planejar? Porque não dá para planejar aquilo que a gente não conhece. Consigo planejar uma viagem para a Europa. Mas se não sei o que quero fazer, é outra história. Não teria como planejar o distanciamento da vida acadêmica, por exemplo, que trouxe diversos dilemas. Precisei abrir mão de trabalhos remunerados, afinal, para dar palestras gratuitas. Toda hora me consultava com meu pai, que me dizia o seguinte: 'você poderá ter muito mais reconhecimento fazendo algo diferente do que todo mundo faz'.
Você sempre soube aproveitar as oportunidades que surgiram?
Sempre me obriguei a fazer o que faço da melhor maneira possível. Quando era professor, por exemplo, várias vezes ouvi um coordenador dizer: 'estou com um problema, alguém aqui dá aula de estatística?'. E aquele silêncio. Daí eu dizia: 'bom, eu estudei estatística. Vou precisar de umas 20 horas de preparo, mas tudo bem'. Meus colegas me chamavam de louco. Mas não fazia isso pelo dinheiro. Resolver um problema da instituição para a qual trabalho é uma forma de agregar valor à minha imagem. E com o passar do tempo fui sendo considerado como um coringa. Surpreender na entrega é uma marca registrada do meu trabalho.
Qual é sua maior qualidade como profissional?
Perseverança e teimosia. Aceito muitos trabalhos que levam meu núcleo familiar a perguntar: 'por que você topou?'. Porque, no fundo, eu sempre procurei fazer o que os outros não querem fazer. Sempre vi valor nisso. É por isso que não sigo modismos, que não me ajudam a me diferenciar.
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