Luiza Helena Trajano não gosta de se apresentar como empreendedora — enxerga-se mais como uma gestora. Sobrinha da fundadora do Magazine Luiza, ela trabalha na companhia desde os 12 anos de idade — inicialmente só durante as férias de verão. Antes de assumir a presidência, passou por diversas áreas, da cobrança à gerência, das vendas à direção comercial. Atualmente, preside o conselho de administração.
Como foi o início da sua trajetória profissional?
Comecei a trabalhar no Magazine Luiza, só durante as férias, com 12 anos de idade. Isso porque eu queria comprar presentes e minha mãe falou: 'vai trabalhar'. E foi muito legal. Todos os meus primos, depois meus filhos e até minha neta foram trabalhar lá em dezembro. Depois, com 17, 18 anos, fui fazer faculdade à noite e assumi outras funções na empresa. Até então, eu só trabalhava durante as férias. Comecei no balcão de vendas, onde aprendi o que é empatia, algo fundamental no varejo. É trocar de papel com o outro, mas se colocando no mundo do outro. Você entra em contato com clientes muito simples, por exemplo, e que não sabem muito como comprar. E você precisa saber ajudá-los.
Como descreve sua gestão no Magazine Luiza?
Sempre procurei implantar uma gestão mais moderna. Em 1991, tirei as paredes internas da companhia, que está no ranking das melhores empresas para se trabalhar desde 1998. O varejo nunca foi muito de investir em pessoas, até porque elas não gostavam muito de trabalhar nessa área. Era a história do ovo e da galinha. Mas comecei a investir em plano de carreira e treinamento. Mesmo crescendo muito — faturamos 60 bilhões de reais em 2022 —, não perdemos nosso jeito de ser. Investi muito para que o Magazine Luiza fosse um exemplo de varejo que acredita nas pessoas e contribui com o desenvolvimento delas. Hoje recebemos cerca de 21 mil pessoas no programa de trainee, sendo que no passado quase ninguém queria trabalhar com vendas.
Como foi assumir o comando da empresa?
Assumi a companhia em 1991, mas já trabalhava como diretora comercial. É preciso distinguir o empreendedor do gestor. Confunde-se um pouco as duas coisas. Empreendedor é aquele que busca a solução. Ele dificilmente se atravanca com problemas. O empreendedor nato não fica preso a eles, está sempre em movimento. E eu fui criada numa família que gosta de buscar soluções. Minha tia [a empresária Luiza Trajano Donato, fundadora da empresa] era assim, mas ela não tinha muita paciência de fazer plano de carreira, de comprar tecnologia. Já eu sou mais gestora. Todo mundo precisa entender se é mais gestor do que empreendedor ou mais empreendedor do que gestor. Do contrário você não pede ajuda. Eu não teria feito o que a minha tia fez: comprar uma loja sem dinheiro e trabalhar dia e noite. Mas ela precisou de alguém que a ajudasse a estruturar o negócio, a ter gestão.
Dá para manter o negócio saudável optando pelo não crescimento?
Você não aumenta de tamanho, mas pode se modernizar. Conheço redes de lojas que não cresceram muito, mas que estão sobrevivendo — e sem dívida, nem nada. Você pode melhorar o negócio com inovações de marketing, por exemplo. É um caminho que não vai aumentar o valor da empresa da mesma forma que um projeto de expansão de lojas. Por outro lado, os problemas serão menores. Toda decisão tem seu preço. Nós optamos por multiplicar o Magazine Luiza e deu certo.
Qual foi o maior erro que você cometeu como empresária?
Não tenho muito compromisso com acertos. Vou fazendo. E se eu errar, pego outro caminho. Então vivo acertando e errando. Sempre estou inventando moda, fazendo coisas diferentes. Não tem jeito, você não pode ensinar um filho a não errar. Você tem que ensiná-lo a ‘redirecionar o erro’ rapidamente. Eu não sofro muito porque não tenho o compromisso de acertar em tudo. Treinei-me para dar o melhor de mim em cada momento, seja ele qual for. Ok, acho que erramos ao comprar muitas empresas de um certo tipo, e poucas de outro — não que todas não estejam bem.
E o maior acerto?
Manter a cabeça aberta para o novo. O Magazine Luiza não tem medo do novo, e isso vem da minha tia. Quando ela comprou uma antiga lojinha, chamada Cristaleira, só tinha dinheiro para pagar a primeira prestação. Daí ela fez um concurso na única rádio da cidade para o povo escolher o nome, o que só foi possível porque minha tia já era conhecida. Nossa família gosta de se arriscar e do novo. Viver sob os louros de vitórias passadas não é comigo. Vamos celebrar as conquistas? Vamos. Mas bola pra frente.
Qual é sua maior qualidade como empreendedora/gestora?
Não diria que é a coragem para tomar riscos porque, como disse, não dou muito valor a eles. Acho então que é o carisma e a capacidade de falar a verdade. Quando optei por ser eu mesma as pessoas passaram a me olhar de outra forma, sabendo que eu estou falando a verdade. Destaco também a minha capacidade de buscar aprender com tudo. E detesto diagnósticos — de que adianta só dizer que algo está ruim? Prefiro fazer acontecer e tenho muita capacidade de colocar ideias em prática.
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