Angelina Jolie e o desafio de viver Maria Callas
Angelina Jolie prova sua genialidade ao encarnar Maria Callas no drama de Pablo Larraín. No filme, a soprano está aposentada, vivendo em um apartamento em Paris, cuidando de seus poodles e lidando com o vício em medicamentos. Durante uma entrevista imaginária, conduzida pelo jornalista Mandrax – uma referência ao sedativo que Callas consumia (conhecido no Brasil como Mandrix) –, a personagem revisita sua trajetória.
A narrativa transita pelas glórias e tragédias de sua vida, desde as favelas da Atenas ocupada pelos nazistas até os maiores palcos do mundo. No percurso, passamos por seu romance com Aristóteles Onassis e colaborações com cineastas como Pasolini e Zeffirelli. No entanto, o foco do filme está nos últimos anos da soprano, quando, já retirada dos palcos, ela busca manter sua dignidade e status.
Jolie brilha como Callas, apresentando uma diva altiva e melancólica, que exige: "Reservem-me uma mesa onde os garçons saibam quem eu sou" ou "Marquem-me um horário com um cabeleireiro que não fale." Seu pianista, indiferente ao tempo, a tranquiliza: "Você é Maria Callas. Não está atrasada; todos os outros estão adiantados."
Um mergulho em tragédia e opulência
A Paris dos anos 70, recriada por Larraín, é um personagem à parte. Com seus bistrôs, gravatas-borboleta e uma atmosfera que parece alheia às revoluções sociais, a cidade serve de cenário para a diva cambalear entre sua solidão e sua lenda. Assim como em óperas de Bellini e Puccini, o filme abraça a tragédia, carregado de pathos e emoções à flor da pele.
Com roteiro de Steven Knight, Maria completa a trilogia de Larraín sobre mulheres ricas e quebradas, que inclui Jackie (2016) e Spencer (2021). Enquanto Spencer flerta com a irreverência, Maria adota um tom mais afetado, reverenciando o culto ao grande artista.
Angelina Jolie entrega uma performance que transcende a atuação. Meses de treinamento vocal e uma mistura de sua voz com gravações da própria Callas adicionam autenticidade ao papel. Mas o que realmente impressiona é sua presença magnética, capaz de capturar o coração e a alma de uma lenda.
O desfecho, embora previsível, é devastador. As cenas finais trazem imagens reais de Callas, sorrindo e encantando com seu charme. É um momento que conecta o espectador à verdadeira essência da diva, encerrando o filme com um toque de humanidade que transcende a ficção.
Como uma grande ópera, Maria exige paciência, mas oferece uma experiência arrebatadora. No final, fica a sensação de que Maria Callas – e agora Angelina Jolie – permanecerão para sempre na memória de quem se permitir mergulhar nessa história.
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