O mocassim tem origem nos povos indígenas da América do Norte. Feito de uma única peça de couro macio costurada à mão, funcionava como uma segunda pele. A sola fina permitia andar em silêncio — essencial para a caça — e sentir o terreno sob os pés. A própria palavra “mocassim” vem do algonquino makasin, que significa simplesmente “sapato”.
Cada tribo criava variações: algumas usavam franjas, outras bordavam com miçangas coloridas. Além da função prática, o calçado se tornava marcador de identidade. Essa estética sobreviveu: décadas depois, o “mocassim de franjas” se tornaria um símbolo da contracultura hippie nos anos 1960.
Atravessando o Atlântico
Com a chegada dos colonizadores europeus, o mocassim chamou atenção pela praticidade. Exploradores logo adotaram o modelo, justamente pela flexibilidade e conforto, e versões adaptadas começaram a circular na Europa. Diferente do sapato estruturado e rígido da época, o mocassim não precisava de “quebra”: era confortável desde o primeiro uso.
Nos Estados Unidos do século XX, o modelo se reinventou em variações urbanas. O mais famoso foi o penny loafer, lançado nos anos 1930, que ganhou esse nome porque estudantes guardavam uma moeda de um centavo no recorte frontal do sapato.
A revolução italiana
Foi na Itália, porém, que o mocassim virou objeto de luxo. Artesãos modernizaram o modelo sem abandonar sua leveza original. Em 1968, a Gucci apresentou o horsebit loafer, com a fivela metálica em forma de freio de cavalo. Essa versão rapidamente se tornou uniforme de executivos e símbolo de status.
Outra reinterpretação veio da Tod’s, nos anos 1970, com o gommino, um mocassim de camurça com pequenas borrachas na sola — inspirado em sapatos de motoristas, que precisavam de aderência sem perder flexibilidade. Essa inovação ajudou a fixar o mocassim como o calçado italiano por excelência.
Estrutura técnica
O que diferencia o mocassim de sapatos clássicos como oxford ou derby é a construção. O cabedal é costurado por cima, com a chamada “apron”, criando a costura visível que define o desenho. Não há salto rígido, e o couro — muitas vezes camurça — é pensado para se adaptar ao pé. A sola é fina, reforçando a sensação de leveza e proximidade do chão, herança direta do modelo indígena.
Do funcional ao cultural
Hoje, o mocassim transita do casual ao formal. Pode estar no tapete vermelho, no uniforme de banqueiros de Wall Street ou nos pés de estudantes universitários. Sua força está justamente nessa capacidade de adaptação. Nasceu como ferramenta de sobrevivência e, cem anos depois, continua como um dos símbolos mais claros de elegância sem esforço.
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