Você já teve a experiência de entrar em um museu e querer sair logo em seguida? Ou de visitá-lo em 10 minutos porque o conteúdo parecia não ter valor? Ou simplesmente porque não encontrou rapidamente a plaquinha com a identificação dos elementos que observava e acabou se entediando?
Mas e o contrário? Já sentiu a importância de entrar em um museu e perceber aquele ambiente orgânico, limpo, com um percurso pensado para o visitante, que te faz sentir quase como se estivesse em um lugar sagrado, onde se deve manter o silêncio, o respeito, e onde todos os seus sentidos se ativam tentando captar cada vez mais detalhes?
Com certeza você já visitou algum museu dos sentidos, onde se coloca o nariz em pequenas janelas ou a mão em algum orifício para explorar o tato, ou até museus onde se pode vestir roupas ou escolher elementos decorativos para se identificar com culturas antigas.
Ou então aqueles grandes museus que quase nos fazem fazer uma “reverência” ao entrar em salas onde estão expostas obras como As Meninas, de Velázquez, o Guernica, de Picasso, a Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, a Ronda Noturna, de Rembrandt, o Davi, de Michelangelo...
Em todos esses diversos tipos de museus, existe um denominador comum que os torna imponentes: o sistema expositivo.
A forma como as obras de arte são apresentadas permite ao visitante uma interação mais ou menos grandiosa com elas.
As obras citadas acima, por exemplo, estão em salas de grandes dimensões, não apenas para permitir o fluxo constante de visitantes, mas também para que o quadro respire e sua presença se imponha como protagonista — como magnificência.
Existem fatores relevantes que podem exaltar ou diminuir a qualidade de uma obra em um museu.
Por isso, escolhi o Museu Arqueológico Nacional de Madri como exemplo de todas essas grandes qualidades que fazem dele um verdadeiro templo de deleite.
Museu Arqueológico Nacional da Espanha (MAN)
O Museu Arqueológico Nacional está localizado na capital espanhola, Madri. Esse edifício não apenas abriga grandes peças arqueológicas da história da humanidade, mas também compartilha, ao fundo, uma conexão com o prédio da Biblioteca Nacional da Espanha.
O que mais se destaca no Museu Arqueológico é a forma de apresentar grandes detalhes da maneira mais minuciosa e cuidadosa possível.
Chama a atenção a colaboração interdisciplinar com designers ilustradores, que criam desenhos no fundo das vitrines para ajudar na recriação do que observamos.
Também é notável o trabalho dos restauradores, que reconstroem partes ausentes dos objetos para que a leitura da peça artística seja completa e perfeitamente compreensível, mesmo quando apenas fragmentos foram encontrados na escavação.
Ou ainda o olhar treinado do museógrafo, que se preocupa em fornecer ferramentas para que o visitante possa visualizar, da melhor forma possível, todos os elementos de uma mesma vitrine.
Entre os muitos aspectos que tornam uma exposição confortável, outro detalhe importante é a altura em que o visitante observa as informações e os objetos expostos — o nível das vitrines, pensado para que a leitura seja dinâmica.
(Em outras épocas da história dos museus, não havia consciência museográfica; por isso, alguns objetos eram exibidos rente ao chão, podendo ser tocados — ou até danificados — pelos visitantes, o que comprometia a experiência e a admiração da obra.)
Todos esses detalhes fazem com que nosso ser vá, aos poucos, se integrando à linha do tempo que o museu abriga.
Essa pequena explicação sobre a qualidade dos sistemas expositivos fica ainda mais evidente com fotografias. São apresentadas, então, uma série de imagens comparativas, atuais e do século XIX, época em que o Museu Arqueológico começou a expor suas peças. A diferença de sensibilidade entre as épocas é fácil de perceber.
Em alguns casos, nota-se um excesso de elementos expostos, o que gera uma sobrecarga sensorial no visitante. Em outros, destaca-se a carência de informações visuais e explicativas, com vitrines excessivamente sóbrias, criando uma sensação de vazio. Em outras situações, a falta de harmonia entre os elementos e a sala onde estão inseridos se torna evidente, além da presença de agentes de deterioração — um aspecto crucial a ser monitorado para garantir a preservação das coleções.
A evolução é notável. Os museus realmente poderiam ser chamados de templos modernos, pois, quando a qualidade da exposição é digna, saímos motivados por uma sede de conhecimento que nos impulsiona a mergulhar ainda mais na história da arte.
Além disso, museus como o MAN oferecem uma janela virtual completa. Sua experiência vai além do seu espaço físico, com passeios virtuais imersivos pelo interior do museu, com cartazes identificativos e informativos.
É possível encontrar também um catálogo completo de tudo que o templo guarda, com fichas técnicas e imagens em 3D de peças específicas, permitindo admirar ao máximo os detalhes de certas ânforas.
Tudo isso cria uma comunicação pessoal com o espectador e nos estende a mão em convite para conhecê-lo mais de perto.
Por isso, é justo honrar o Museu Arqueológico Nacional como exemplo de precisão em suas exposições e conteúdos — tornando-se sublime, único e refinado.
Depois de uma visita a esse museu, ficamos dias — ou uma vida inteira — pensando em tudo que ali se viveu.
Podemos, com segurança, chamá-lo de templo moderno.
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