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Os fundamentos objetivos da beleza em Tomás de Aquino

O que faz uma obra ser bela? Sua forma, sua harmonia, seu propósito? Ou a beleza é algo que não depende do objeto, mas apenas do olhar do espectador? Para Tomás de Aquino, a beleza não é uma questão de gosto subjetivo, mas uma propriedade objetiva das coisas. Mas em que sentido podemos falar de objetividade na arte?

basílica notre dame

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Tomás de Aquino herda a tradição aristotélica e cristã, buscando conciliar a filosofia clássica com a teologia cristã. Sua reflexão sobre a arte se dá principalmente no contexto de sua teoria da beleza. Na Suma Teológica, ele define a beleza a partir de três critérios fundamentais: integritas (integridade ou perfeição), proportio (proporção ou harmonia) e claritas (esplendor ou evidência). Esses princípios não são arbitrários, mas derivam da estrutura do ser: uma coisa bela é aquela que manifesta plenamente sua essência.

A integritas não significa apenas completude material, mas a plena realização da forma própria de cada coisa. Uma obra de arte possui integridade quando nada lhe falta para ser o que deve ser, quando sua natureza se manifesta plenamente. A proportio vai além da mera simetria física, referindo-se à adequada relação entre as partes e o todo, bem como entre a obra e seu fim. Já a claritas indica o brilho interior da forma, sua capacidade de manifestar-se à inteligência através dos sentidos.

O Triunfo de São Tomás de Aquino - Benozzo Gozzoli

Para Tomás de Aquino, a beleza é um reflexo da ordem criada por Deus. A pintura, a escultura, a música, a arquitetura e a literatura não são belas apenas porque agradam aos sentidos, mas porque expressam, em diferentes graus, essa ordem superior. Esse pensamento explica por que a estética medieval valoriza tanto a simetria e a harmonia: não se trata apenas de convenções estilísticas, mas da tentativa de refletir a racionalidade divina.

A beleza, assim como o bem e a verdade, faz parte da própria essência do que existe. Quando Tomás de Aquino diz que o belo e o bem são a mesma coisa no ser, ele mostra que a estética, a moral e a própria natureza das coisas estão ligadas. A beleza não é apenas um detalhe superficial, mas uma expressão da perfeição do que existe.

A concepção de arte de Tomás de Aquino também está profundamente ligada à ideia de finalidade. A arte, para ele, não existe simplesmente para proporcionar prazer sensorial, mas para auxiliar na busca da verdade. Isso não significa que toda arte deva ter um conteúdo religioso explícito, mas sim que deve estar ordenada à racionalidade e ao bem. Nesse sentido, a arte não se reduz a mera imitação da natureza (mimesis), mas deve revelar o que há de mais essencial nas coisas.

O Juízo Final – Giotto

Essa visão da arte, que busca um fim ou propósito, está ligada à teoria de Tomás de Aquino sobre o conhecimento. Para ele, o conhecimento que vem dos sentidos é o começo essencial para o entendimento intelectual. A arte, ao lidar com coisas que podemos perceber, pode ajudar a conectar o que é sensível (aquilo que vemos, ouvimos, tocamos) com o que é mais abstrato e difícil de entender. Uma boa obra de arte não apenas mostra algo, mas ajuda a entender sua essência por meio das formas que podemos perceber com os sentidos.

Se a arte é bela quando manifesta a ordem divina, quem decide o que é belo? Um curador, um crítico, um filósofo? Para Tomás de Aquino, a beleza não é uma convenção social, mas uma realidade objetiva. No entanto, nossa percepção da beleza pode ser limitada e influenciada pelo contexto cultural. Isso significa que a apreciação artística envolve tanto um componente objetivo quanto subjetivo: há critérios universais de beleza, mas nossa capacidade de reconhecê-los pode variar.

Esta dialética entre objetividade e subjetividade na experiência estética reflete a própria estrutura do conhecimento humano segundo Tomás de Aquino. Assim como a verdade é objetiva mas nosso acesso a ela é sempre mediado por nossas capacidades cognitivas, a beleza possui fundamentos objetivos mesmo que nossa apreensão dela seja condicionada por fatores subjetivos e culturais. O juízo estético, portanto, não é puramente arbitrário, mas deve buscar reconhecer nas obras os princípios universais da beleza.

O Retábulo de Gante - Jan e Hubert van Eyck

A teoria da arte tomista estabelece uma relação entre beleza e verdade. Se a beleza é algo que pertence ao ser, então toda manifestação autêntica da verdade possui também beleza. Isso não significa que a arte deva ser didática ou moralista, mas que sua verdadeira função é revelar aspectos da realidade que poderiam passar despercebidos à experiência comum

Em se tratando em especial do mundo da arte contemporânea, a arte muitas vezes se afasta da ideia de ordem e proporção, valorizando a ruptura e o choque. Mas será que essa tendência implica um afastamento da beleza? Ou será que nossa concepção do belo mudou?