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Pina Bausch: a dança que revela a alma humana

Pina Bausch transformou a dança contemporânea ao mesclar movimento e emoção com uma intensidade nunca vista antes. Coreógrafa alemã de renome mundial, ela criou obras que iam além da estética, explorando sentimentos profundos e os dilemas universais da humanidade.

pina bausch

5 minutos

Em 1981, eu trabalhava como bailarino no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. No final de um expediente, por volta das 5 da tarde, saindo dos ensaios, vi um caminhão de terra estacionado próximo à entrada dos artistas. A terra estava sendo descarregada e levada para o palco. Aquilo me intrigou, então me aproximei e percebi que muitos dos que estavam ali eram alemães. Perguntei a um dos técnicos de palco brasileiros o que estava acontecendo, se iriam fazer uma reforma no Theatro ou algo do tipo. Um deles respondeu que a terra fazia parte de um cenário do espetáculo que aconteceria naquela noite.

Curioso, fui até os alemães para descobrir o nome da companhia de dança e foi então que, pela primeira vez, ouvi o nome Pina Bausch. Imediatamente, fui até a bilheteria e consegui um ingresso (naquela época, nós, bailarinos, tínhamos o direito de assistir a qualquer espetáculo no Theatro). Comi algo ali por perto e, às 8h, entrei para assistir ao espetáculo. Aquilo foi uma epifania para mim.

Café Müller abriu o programa. No começo, não me senti muito entusiasmado, mas uma bailarina em particular chamou minha atenção, e eu não conseguia desviar o olhar. Mais tarde, descobri que essa figura pálida, de longos braços e grande expressividade, era a própria Pina Bausch. Após o intervalo, veio algo verdadeiramente arrebatador: A Sagração da Primavera, dançada sobre a terra que eu tinha visto mais cedo. Fiquei completamente extasiado. Foi o primeiro de muitos espetáculos de Pina Bausch que assisti ao redor do mundo.

O Legado de Pina Bausch

A partir dos anos 1980, tornou-se difícil falar de dança sem mencionar o nome de Pina Bausch, a "Senhora de Wuppertal". Nascida em 27 de julho de 1940, em Solingen, Alemanha, Pina passou a infância observando o comportamento dos clientes que por ali passavam e ouvindo as suas conversas.

Formação e Influências

Ela estudou dança com Kurt Jooss na Alemanha e, em 1958, ganhou uma bolsa para a Juilliard School em Nova York. Lá, foi influenciada por coreógrafos como José Limón, Antony Tudor e Paul Taylor. Em 1962, retornou à Alemanha a convite de Jooss, assumindo a coreografia no Folkwang Ballet e se tornando diretora artística em 1969.

Em 1973, o diretor do centro de artes de Wuppertal a convidou para montar e dirigir sua própria companhia. Foi em Wuppertal que Pina mergulhou no estilo único de Dança-Teatro (Tanztheater). No início, seu trabalho dividia opiniões, mas, nos anos 1980, o sucesso internacional chegou, e Pina se tornou uma figura reverenciada. Obras como A Sagração da Primavera (1975), Café Müller (1978) e Kontakthof (1978) passaram a fazer parte do repertório de companhias renomadas.

Pina revolucionou a dança não só com um novo gênero, mas também com sua abordagem criativa. Ela fazia perguntas a seus dançarinos, como "Como dançar o amor?" ou "Quais são as diferentes maneiras de sentar?" Observava suas improvisações e usava esses movimentos em suas criações. O foco estava no comportamento humano, nas relações, e sua dança capturava uma certa atitude perante o mundo, retratando homens e mulheres como são, sem julgamentos.

Obras Significativas

  • A Sagração da Primavera (1975): Inspirada na obra de Stravinsky, a peça se passa sobre um chão coberto de terra, criando um espaço de confronto brutal.
  • Café Müller (1978): Ambientada em um bistrô repleto de mesas e cadeiras, a peça reflete temas de desespero e rompimentos, com Pina Bausch dançando de olhos fechados.
  • Kontakthof (1978): Um estudo sobre as relações humanas, ambientado em um salão de dança, explorando a interação e a busca entre homens e mulheres.

Pina e o Cinema

Pina Bausch também deixou sua marca no cinema. Ela era constantemente convidada a participar, não somente como coreografa de uma série de filmes, mas também atuando em alguns poucos, sempre deixando a sua marca.

Um grande exemplo foi quando Federico Fellini a convidou para atuar em E la nave va (1983) como uma princesa cega.

Em Fale com Ela (2001), de Pedro Almodóvar, suas coreografias servem como subtextos poderosos para a narrativa.

E claro, o documentário Pina (2011), de Wim Wenders, filmado em 3D, trouxe ao mundo as obras de Pina de forma imersiva.

Pina Bausch transformou a dança, criando um legado que permanece vivo, retratando a essência humana com uma sinceridade ímpar e revolucionando a forma como a dança é vista e sentida.