A moda é cíclica — e isso diz muito mais do que parece
Basta observar o vaivém das vitrines (ou do próprio guarda-roupa) para notar que o que parecia “fora de moda” há vinte anos pode, de repente, voltar a ser tendência.
Mas por que a moda insiste em repetir certos estilos?
Não é só por nostalgia ou falta de inovação. Esse movimento obedece a lógicas culturais, comportamentais e econômicas. A moda é cíclica porque reflete o tempo — e o tempo, como a história, tende a se repetir com novas roupagens.
O ciclo das tendências
Toda tendência segue um ciclo. Primeiro, um pequeno grupo de inovadores (os famosos early adopters) experimenta algo novo. Depois, essa novidade ganha força, atinge o grande público, se massifica — e, inevitavelmente, perde o frescor. A saturação marca o início do fim.
Esse processo costuma seguir etapas bem definidas:
- Inovação – algo novo surge e atrai um grupo seleto
- Adoção precoce – celebridades e formadores de opinião aderem
- Disseminação – o público em geral adota a tendência
- Saturação – o uso excessivo gera cansaço
- Declínio e abandono – o que era tendência vira ultrapassado
- Retorno – depois de um tempo, a peça volta reinterpretada
Esse ciclo pode durar décadas… ou apenas alguns meses. Tudo depende do contexto — e das redes sociais, que aceleram tudo.
Moda como reflexo da sociedade
A moda não existe no vácuo. Ela é, antes de tudo, um espelho do que estamos vivendo.
Durante a pandemia, por exemplo, o mundo se recolheu — e a moda respondeu. Roupas mais confortáveis, tecidos maleáveis, cortes amplos e foco no bem-estar dominaram o cenário. O loungewear virou uniforme global. O jeans deu lugar à malha.
Quando o mundo começou a se reabrir, veio o oposto: cores, brilhos, silhuetas ousadas. Uma explosão de otimismo — ainda que mais simbólica do que real. A moda traduziu o desejo coletivo de reencontro e alegria.
Esses movimentos revelam um ponto-chave: as roupas materializam o que está no ar. Elas transformam emoções coletivas em forma, cor e textura. E isso se repete após guerras, crises econômicas, revoluções sociais.
O papel do coolhunting
É aí que entra o coolhunting — a “caça ao que é cool”. Um trabalho de mapear sinais emergentes: novos gostos, padrões de comportamento, desejos ainda em formação.
Coolhunters observam as ruas, as redes, a música, o design, a arte. Captam o que está nascendo, muitas vezes antes de virar tendência — e até mesmo antes do próprio público perceber.
Por isso algumas marcas parecem “prever o futuro”. Elas estão apenas lendo o presente com atenção.
Esses estudos não servem só para planejar coleções de moda. São ferramentas estratégicas para arquitetura, design e negócios. Entender comportamento é vantagem em qualquer setor.
A Lei de Laver: o tempo transforma tudo
Nos anos 1930, o ator e historiador James Laver criou uma tabela curiosa para ilustrar como mudamos nossa percepção sobre a moda ao longo do tempo. Segundo ele, o tempo determina o que é ridículo, o que é ousado e o que é clássico.
Veja como ele sintetiza essa transformação:
- 10 anos antes de seu tempo: ultrapassado
- 1 ano antes: ousado demais
- no momento: moderno
- 1 ano depois: fora de moda
- 10 anos depois: cafona
- 20 anos depois: engraçado
- 30 anos depois: nostálgico
- 50 anos depois: clássico
- 70 anos depois: chique
- 100 anos depois: romântico
A Lei de Laver ajuda a entender por que a moda volta — mas nunca igual. O tempo transforma o olhar. O que foi ridículo pode virar referência. E o que é tendência hoje, um dia será piada… ou inspiração para os netos.
A nostalgia como combustível
Outro fator que alimenta os ciclos da moda é a nostalgia.
Em tempos de incerteza — como crises econômicas ou avanços tecnológicos abruptos — é comum que o passado pareça mais confortável do que o presente. A moda capta esse sentimento com rapidez.
Peças que remetem à infância, juventude ou a décadas “icônicas” voltam às vitrines. Elas carregam uma memória de estabilidade, liberdade ou rebeldia. Agora entende por que os anos 90 estão tão em alta?
Legenda: o Dad Sneaker é um exemplo clássico dessa nostalgia.
E o estilo masculino nisso tudo?
A moda masculina também vive esses ciclos — só que de forma mais sutil.
Saber que a moda é cíclica ajuda o homem contemporâneo a fazer escolhas mais conscientes. Entender o que tem potencial de longevidade é um diferencial. Afinal, o charme de um bom clássico não precisa de explicação.
Ao invés de seguir modismos passageiros, o homem elegante observa os ciclos para tirar o melhor de cada um. Ele não é refém da tendência, mas também não ignora o presente.
Entre o passado e o presente
A moda é uma dança entre tempos. O que muda não é só a roupa, é o significado dela. Há 10 anos, o tênis era restrito à academia. Hoje, aparece em casamentos.
Quem entende os ciclos da moda entende também como ter um estilo moderno — sem ficar preso às microtendências. Porque, no fim das contas, estilo de verdade não sai de moda. Ele atravessa o tempo.
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