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Quincy Jones: o legado de um gênio musical

Quincy foi um visionário que transcendeu fronteiras, unindo culturas e pessoas através de sua arte. De Chicago a Paris, de parcerias com Michael Jackson a composições para o cinema, seu legado é marcado por autenticidade, inovação e um compromisso inabalável com a verdade.

Quincy Jones

4 minutos

Escrevo este artigo num dia frio da primeira semana de novembro, um mês que chegou batendo forte, trazendo (finalmente) a chuva e a lembrança daqueles que já se foram, como é costume no Dia de Finados. É também um período que nos faz refletir sobre perdas recentes, incluindo artistas e personalidades que tornam nossa passagem pelo planeta mais leve e bela. Entre os que subiram para o “Segundo andar” está Quincy Delight Jones Jr., o lendário trompetista, compositor, arranjador e produtor. Mais conhecido como "Q", assim o chamaremos por aqui.

Q sempre dizia que, para realmente se conectar com a essência de alguém, era necessário "despir-se da sua vaidade". Essa frase, que ele usava ao conhecer pessoas novas, reflete sua maneira de encarar a vida e a música: sem superficialidades, sempre em busca da verdade profunda e da autenticidade.

Nascido em Chicago em 1933, Q cresceu em meio a desafios, marcados pela pobreza e pela instabilidade de sua mãe. Mas desde cedo, ele enxergou a música como uma forma de transcender barreiras e se conectar com o mundo. Foi em Seattle, ainda menino, que sua jornada musical ganhou forma. Autodidata ao piano e apaixonado pelo trompete, foi orientado por mestres como Clark Terry e começou a dividir palcos com Ray Charles, criando um vínculo movido pela mesma paixão: a música.

Jones não se limitava a um estilo ou papel. Na sua visão, o mundo era vasto demais para que ele fosse uma coisa só. Ele era músico, compositor, arranjador, produtor, ativista e um verdadeiro cidadão do mundo. Uma bolsa de estudos o levou à Berklee College of Music, mas a música chamava mais alto do que a vida acadêmica. Ele seguiu Lionel Hampton, orquestrou turnês pela Europa e, em Nova Iorque, tornou-se uma lenda no cenário do jazz, colaborando com ícones como Sarah Vaughan e Frank Sinatra.

Mas Q nunca se deixou definir por seus sucessos. No auge de sua carreira, ao compor trilhas sonoras para Hollywood e assumir a vice-presidência da Mercury Records, ele dedicava tempo e energia para causas que acreditava. Ele foi um aliado de líderes como Martin Luther King Jr., e seu compromisso com o ativismo antirracista era uma extensão de seu compromisso com a música: um compromisso com a alma humana.

A singularidade de Quincy Jones foi seu poder de unir o mundo através do som. A colaboração com Michael Jackson, que resultou no revolucionário "Thriller", foi um exemplo máximo disso. Ele era um arquiteto de momentos históricos, como a produção de "We Are the World", e mesmo após sobreviver a um aneurisma, voltou à vida com novos projetos, cada vez mais ousados.

Q sempre deu lugar de honra ao jazz, mas não apenas como música, e sim como uma linguagem universal que transcende gerações. Sua liderança no Festival de Montreux e sua influência cultural com a revista "Vibe" são apenas fragmentos de um legado que é difícil de medir. Ele dizia, sem presunção, que viveria até os 110 anos. E, mesmo que o tempo não tenha se estendido tanto quanto ele desejava, sua marca é eterna.

Quincy Jones nos ensinou a despir a vaidade, a respeitar as origens e a celebrar a diversidade com autenticidade. Seu falecimento em 3 de novembro deixa o mundo um pouco menos vibrante, mas sua música continuará a ser uma lição viva de como uma alma verdadeiramente grande pode transformar o mundo.