O que vem à sua cabeça quando se depara com a palavra tropical? O acúmulo de figuras, histórias, lendas e de elementos simbólicos construiu ao longo do tempo o imaginário do que hoje é algo tropical. É possível experimentar isso ao visualizar ambientes decorados de determinada forma, ao ver determinados animais ou ainda ao se escutar determinados sons e ritmos. Todos esses elementos estão presentes ao se ter contato com esse conceito, com essa palavra. Mas como essa palavra ganhou esse sentido e como essas percepções se consolidaram ao longo do tempo por diversos tipos de sentidos e elementos artísticos?
Os Primeiros Contatos
A palavra trópico tem sua origem no grego tropikos ou trope que significa volta. Com o tempo passou a definir a linha limítrofe que marca o solstício tanto no hemisfério sul quanto no norte, determinando o afastamento máximo ao longo do ano da trajetória solar e a região próxima da Linha do Equador, que até meados o Século XV, tinha as porções de terra e populações desconhecidas pelos habitantes da Europa.
Com o início das grandes navegações, os exploradores que desbravavam e conquistavam terras fora do espaço restrito da Europa e do Mediterrâneo tiveram contato com culturas e paisagens muito diferentes das de suas terras natais. Essa diferença causava admiração e espanto, e os registros dessas impressões eram enviados ao continente europeu. Muitas vezes não só o registro, mas também amostras vivas chegavam ao continente. E com o tempo foram-se criando as bases para o imaginário atual do que vem a ser tropical.
O Brasil e o Tropical
O Brasil contribuiu grandemente com a imagem do que é ser tropical. Sua cultura e sua paisagem desde o seu descobrimento por Pedro Álvares Cabral aportavam em continente europeu. Com a Carta de Pero Vaz de Caminha, não só os hábitos dos nativos como o ambiente encontrado chegaram a Corte Portuguesa por meio de seu relato oficial.
Com o passar dos anos, aventureiros, mercenários, missionários, pesquisadores, cartógrafos, artistas, muitos conheceram e deixaram suas impressões, que percorriam a Europa e povoavam o imaginário. Hans Staden, mercenário alemão, foi um desses. Ele descreveu os períodos em que participou de combates em território brasileiro e em que ficou cativo da tribo dos Tupinambás. As suas histórias se espalharam pela Europa e o exotismo desse território estrangeiro ganhava ainda mais expressão com o ritual de canibalismo por ele descrito.
Artistas, por outro lado, aos poucos foram mostrando as paisagens do Brasil, mesmo que de maneira bem tímida, devido às restrições da Coroa Portuguesa. Nesse tempo, para a Coroa era considerado um risco à segurança dos territórios a sua exposição por imagens ou quaisquer registros. Mesmo assim, anteriormente ao período da Abertura dos Portos, é possível notar pinturas dos domínios de outros Estados europeus, como é o caso de Pernambuco, ou ainda de pinturas e de cartografia da época feitos em domínios portugueses, que apresentavam paisagens urbanas, rurais e até mesmo traços e figuras dos povos que habitavam essas regiões.
No século XVIII, a paisagem e a valorização da natureza e do idílico ganharam um novo valor com o Romantismo. Antes esses temas eram desvalorizados, servindo apenas como cenário para pinturas sacras ou retratos. Assim, o registro da paisagem, também nos trópicos, e especificamente no Brasil com a Abertura dos Portos passou a ser difundida. Com missões artísticas vindas da França, Alemanha, Áustria, Rússia, a imagem da sociedade e da paisagem brasileiras passaram a circular por impressões, gravuras e com o passar dos anos, com o Brasil já independente, por fotografias e cartões postais.
A Modernidade e o Tropical
Além dos registros artísticos, o turismo começou a ser grande influenciador dessa construção do imaginário tropical. Com a mudança ocorrida durante o período Romântico, o turismo ganhava importância e, acresceu-se o turismo com foco no tropical os passeios de fins culturais e de relaxamento que ocorriam na Europa. Essa tendência começou com as regiões mediterrâneas do sul da França ou na Itália, na Europa, e, nos Estados Unidos da América, na Flórida. Aí se iniciava esse processo de turismo que ganharia outros destinos, entre eles, o Rio de Janeiro, que exportaria mais ainda a ideia de exótico.
Outro fator que contribuiu para a construção do imaginário tropical foi o cinema. No Brasil, marcado pela época da Política da Boa Vizinhança, com a divulgação de longas metragens da Carmen Miranda – com sua música, com enfeites, balangandãs e seu chapéu de frutas – e pelas mãos de Walt Disney, após sua visita ao Brasil, com a animação em que Pato Donald visita o personagem Zé Carioca, e onde é possível se ver a fauna e a flora das matas da cidade maravilhosa com sua exuberância de folhagens e de cores e, ainda, ouvir a composição de Ari Barroso – Aquarela do Brasil. Por meio do cinema, ainda pode-se tomar como registro do tropical, entre tantos outros, o filme em que o agente britânico 007, interpretado por Roger Moore, vai à Amazônia e também enfrenta o vilão de dente de aço no bondinho do Pão de Açúcar. Saindo do Brasil, ainda nas filmagens de 007, interpretado por Sean Connery, com a cena na Jamaica, da saída do mar da atriz Úrsula Andress, tem-se essa visão do que comporia uma paisagem tipicamente tropical, que é vista também em outros filmes gravados na Flórida, no México e em todo o Caribe, no Vietnã e na África.
O contexto musical, por outro elemento sensorial, é muito bem representado. O samba, a bossa nova – que se difundiu no mundo inteiro - a salsa, o mambo, o bolero, todos esses ritmos, retratados também nas películas, são muito bem marcados e representam bem o que se vem à mente quando se pensa em algo tropical. Atualmente, entre tantos artistas e bandas, Jorge Bem Jor, o guitarrista Santana, Shakira, Rick Martin, Black Eyed Peas, utilizando composições de Sérgio Mendes, Buena Vista Social Club, Mayra Andrade, Luedji Luna, Sofi Tukker contribuíram e contribuem para reforçar e atualizar esse ideário.
Um Processo Contínuo
Assim, o tropical muitas vezes surge em sua cabeça ao ouvir algum ritmo, ao ver determinadas paisagens, jardins, folhagens, padrões, animais, ao comer determinados pratos, ao pensar em praia, calor, verão e em cores vibrantes. Isso não ocorre por acaso, é uma construção longa e variada que carrega traços de diferentes culturas e tempos, que foram sendo difundidos por vários meios e seguindo a evolução tecnológica, até os tempos atuais, numa busca pelo exótico, pela aventura e pela descontração, continuando a ser ainda objeto de transformações ou de reafirmações. Não é à toa, que ao olhar a imagem abaixo, de certa forma ela também nos comunica o sentido do tropical.
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