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Zica Assis, fundadora do Instituto Beleza Natural

Sua rede de salões de beleza tem 40 unidades de negócios e envolve ainda um centro de treinamento para os 2000 funcionários e uma fábrica que produz mensalmente 380 toneladas de produtos só para os salões próprios, onde são atendidos cerca de 130 mil clientes todo mês.

“Conquistamos o Brasil. Agora queremos ganhar o mundo”

Você começou uma revolução, há mais de 20 anos atrás, que hoje é
muito importante para a autoestima das mulheres negras. Como foi
ter dado esse passo?

Eu venho de uma família muito humilde. Meu pai era biscateiro, minha mãe era lavadeira, tiveram 13 filhos e morávamos todos em um barraco de chão de terra batida. Quando eu completei 9 anos, minha mãe me pegou pelo braço e falou “Olha, agora você vai trabalhar”. Tudo bem. Trabalhar é fácil. Lavar, passar, arrumar… Eu ia cuidar de uma criança de 5 anos. Mas, quando cheguei na casa para trabalhar, a patroa da minha mãe olhou pra mim e disse: “Aqui você não entra com esse cabelo. Ou você corta, ou alisa, dá um jeito”. Como uma criança, eu não entendia o porquê daquilo. Mas minha mãe olhou pra mim muito séria e disse: “você vai cortar”. E, desde
aquele dia, ficou uma pontinha de tristeza dentro de mim. Não entendia porque não podia deixar meu cabelo como era, o motivo daquela rejeição. Então, quando eu fui fazer o curso de cabeleireira, eu pensei que queria criar algo para que as pessoas pudessem lidar com seus cabelos de outra forma, que não precisassem alisar ou cortar, como eu tive que fazer, que gostassem de seu cabelo “black”, que pudessem cuidar desse cabelo e manter suas características. Pensei em algo que era pra mim, pra resolver o meu problema, e o problema da minha comunidade. Sou muito feliz por ter dado esse passo lá atrás.

Você teve um começo difícil, se dividindo entre o sonho de
empreender e o trabalho diário como empregada doméstica. Como foi
esse início?

Eu tinha feito um curso de cabeleireira na paróquia da minha comunidade, mas não tinha tempo para atender as clientes pois eu trabalhava em casa de família de domingo a domingo. Então eu ficava testando os produtos no meu cabelo e no cabelo do meu irmão, o Rogério, que hoje é meu sócio. Meu cabelo caía todo, dele também… Era a minha cobaia. Até que um dia, depois de muitos testes, cheguei em uma fórmula que deu certo e as pessoas
começaram a me perguntar o que eu tinha usado. Meu cabelo mostrou o resultado e eu me animei. Pedi ajuda pra uma patroa, que me desencorajou totalmente. Aí, depois de um tempo, pedi ajuda para outra, que conseguiu uma química que topou fazer minha fórmula e me ajudou a registrar o produto. E foram assim os primeiros passos até abrirmos o primeiro salão. Pedi ajuda para esse meu irmão, que tinha R$ 1200 guardados na poupança na época, valor que ele juntou trabalhando no McDonald’s. E ele chamou uma colega, a Leila Velez, que hoje é a presidente da empresa. Mas o valor das economias nano era suficiente e eu fui pedir ajuda para o Jair, meu marido. O único bem da família era um Fusca que ele usava para trazer as
pessoas de lá do asfalto, lá de baixo, para subir o morro. Um pouco chateado, ele aceitou vender o Fusca por algo equivalente a R$ 3000. E foi com esse dinheiro que abrimos o primeiro salão Beleza Natural lá na Tijuca.

Como foi lidar com o preconceito nessa jornada?

O primeiro salão ficava cheio e, como atendíamos a classe C e D, naquela época ninguém tinha conta ou cartão de crédito. Recebíamos tudo em dinheiro. Era muito dinheiro pois, aos sábados, tinha fila para fazer o tratamento. Então colocamos tudo em um saco de papel e fomos ao banco abrir nossa primeira conta. Fomos eu, meu marido, meu irmão e a Leila. Ninguém nos atendeu. Imagine, quatro negros vestidos com roupas muito simples… Ficamos quatro horas sentados e ninguém nos chamava pra abrir a conta. Aquilo doeu. Ali, ou a gente desistia ou encontrava ainda mais força para seguir em frente. Então saímos com o dinheiro no saco de pão e tivemos a ideia de só negociar em dinheiro dali em diante. Pagávamos nossos fornecedores à vista e conseguíamos descontos. Era tudo na ponta
do lápis. Acabou sendo muito bom. Claro que depois a gente abriu conta, mas ficamos um bom tempo negociando tudo com dinheiro vivo. E esse tipo de situação, de preconceito, embora seja menor, ainda acontece. As pessoas chegam no salão para falar comigo e, quando eu chego, muitos me pedem pra chamar “a dona”.

Como foi que vocês deram a virada, daquele salão de bairro para as
40 unidades do Beleza Natural hoje?

O salão vivia cheio e a gente ia expandindo, mas não entendíamos nada de gestão. A gente fazia um anúncio no vidro do ônibus e era assim nosso marketing. E a coisa correu e foi enchendo cada vez mais, um ano depois abrimos o segundo salão… Mas a gente não entendia nada de gestão. A virada veio quando a Leila foi para São Paulo ouvir uma palestra do Mario Chady, do Spoleto, e ouviu falar na Endeavor. Ela procurou o Mario no final e ficou sabendo das inscrições. A gente correu para conseguir se inscrever porque não tínhamos nada organizado, imagine. Fomos chamados para o painel e não sabíamos nem que roupa vestir no dia, não sabíamos o que
falar! Só rezávamos antes de começar. Contamos nossa história como ela é e, no final, quando a Leila terminou e disse o que a gente pretendia dali pra frente, simplesmente Beto Sicupira e Jorge Paulo Lemann foram os primeiros a levantar para bater palma. Ficamos de boca aberta, sem entender nada. Foi muito emocionante. Quando a gente saiu de lá, todo mundo falava: “Vocês estão dentro porque eles levantaram pra bater palma pra vocês. Uma coisa inédita!”. Dali pra cá, a empresa só cresceu. A gente tinha um salão de beleza e acabou virando um instituto de beleza, temos a
fábrica própria que produz 380 toneladas de produtos só para nossos salões, fomos para Harvard contar nossa experiência. E o meu primeiro mentor foi justamente o Mario Chady! Vocês abriram um salão em Nova York… A gente sempre quis conquistar o mundo. Conquistar o nosso Brasil,
primeiro, e depois sair pra ganhar o mundo. Em 2018 a gente conseguiu ir pra Nova York, abrimos um salão no Harlem, pertinho do Apollo Theater, um lugar de negros, a gente tá lá com um instituto lindo.